Diante das fortes incertezas e da volatilidade da economia, o governo passou a prever na proposta de PLDO de 2017 um "cenário de estresse" para a estimativa do PIB e o impacto disso para as receitas para o cumprimento da meta de primário. Nos próximos anos, a ideia é ampliar o uso dessa metodologia. Na hipótese de "estresse", a equipe econômica considera que o PIB do país sofrerá uma retração de 0,48% em 2017. Se essa previsão se confirmar e não houver a aprovação do retorno da CPMF, a frustração de receitas poderá chegar a R$ 87 bi. O valor é maior até mesmo que o pedido de abatimento de R$ 65 bi feito pelo governo na meta do primário do ano que vem. Na sexta-feira, os ministros Nelson Barbosa (Fazenda) e Valdir Simão (Planejamento) encaminharam ao Congresso Nacional a PLDO fixando uma meta de superávit zero para 2017, mas abrindo espaço para déficit de R$ 65 bi (¬0,96% do PIB) caso todo abatimento proposto seja utilizado. O desconto será composto por R$ 42 bi de possíveis frustrações de receita e de R$ 23 bi a serem direcionados aos investimentos do PAC. Apesar do cenário de estresse considerado, o governo usou como base na PLDO o crescimento do PIB de 1% para 2017 ¬ o que impulsiona a projeção de receitas do Orçamento. No que diz respeito ao PIB, o cenário ¬base é visto como otimista perto das estimativas de mercado, como as do boletim Focus, do BC, que aponta uma expansão de 0,5%. De acordo com a PLDO de 2017, o cenário de indicadores macroeconômicos sob estresse foi construído com adição de um "desvio padrão", para cima e para baixo, à média projetada do PIB e outros indicadores. A referência é o Focus de 24 de março de 2016. Ao longo dos anexos do projeto, o governo aplicou o cenário de estresse em variáveis como vendas de veículos e vendas de fumo, população economicamente ativa, nível de ocupação, rendimento e massa salarial. Com isso, o governo estima que a receita administrada líquida de restituição, projetada em R$ 877,9 bi em 2017, sofra queda de R$ 40,6 bi. Já no cenário ¬base, mais favorável, o governo estima um aumento de receita de R$ 56 bi em 2017. Parte disso virá, diz a equipe econômica, da elevação das vendas de veículos (9,85%); das importações (15,67%); das aplicações financeiras (8,31%); das vendas de bebidas (4,1%) e outros itens. Na avaliação do governo, também haverá aumento na receita em decorrência de alterações na área tributária. O principal elemento é a recriação da CPMF, que tem expectativa de R$ 33,240 bi. O retorno do imposto do cheque, no entanto, se mostra incerto em um momento de crise política. A contribuição depende de aprovação do Congresso. (Valor Econômico – 19.04.2016)