Notícias do setor
20/04/2016
Os resultados modestos do leilão de transmissão

EDITORIAL. “Os resultados modestos do leilão de transmissão”. O Estado de São

Paulo. São Paulo, 19 de abril de 2016.

A oferta de melhores condições para as concessões de transmissão de energia não

bastou para que o leilão promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica

(Aneel) fosse bem-sucedido. Apenas 14 dos 24 lotes oferecidos atraíram

investidores e o volume de investimentos comprometido, de R$ 6,87 bilhões, mal

superou 56% do total de R$ 12,2 bilhões previsto pela agência reguladora, que

esperava a criação de 27,6 mil vagas. A receita anual permitida (RAP) aos

vencedores é de R$ 1,36 bilhão, muito inferior ao teto de R$ 2,5 bilhões.

Em resumo, a rede de transmissão continuará insuficiente para atender à demanda.

Foram ofertadas 36 linhas de transmissão com 6.097 km de extensão e 27

subestações, em 18 Estados, mas só 3.402 km foram contratados.

Os investidores sempre viram a transmissão como um dos melhores segmentos do

setor, propiciando renda estável durante os 30 anos dos contratos. Mas poucos entre

os grandes investidores em energia participaram do leilão, a começar da Eletrobrás,

em graves dificuldades financeiras, com prejuízo de R$ 14,4 bilhões em 2015 e de

R$ 30,6 bilhões entre 2012 e 2015 e que espera um acerto de contas com a União

para voltar aos certames.

Com a exceção da gigantesca State Grid chinesa, que arrematou dois lotes, os

demais foram vencidos por grupos que já investiam no setor (Alupar e Taesa) e

outros de menor porte ou que não haviam participado de leilões anteriores, como

WTorre e Pátria Investimentos – que arrematou o maior dos lotes oferecidos, com

linhas nos Estados do Ceará, Maranhão e Piauí. O BNDES aumentou de 50% para

70% o porcentual máximo de financiamento dos investimentos, mas nem assim

houve oferta para todos os lotes.

Não há dúvida de que o nível de incerteza e a recessão afetaram o certame, admitiu

um diretor da Aneel, José Jurhosa. “Mesmo que aparentemente se possa achar que

o leilão não foi dos melhores, R$ 7 bilhões é muito dinheiro para o atual momento

econômico”, justificou. Mas o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Salles,

notou que a frustração registrada na concessão de dez lotes trará “um gargalo” no

sistema de transmissão. Há algumas semanas, o grupo espanhol Abengoa,

vencedor de uma linha de transmissão entre Belo Monte e o Rio, pediu recuperação

judicial.

Desde 2014 os leilões de transmissão despertam pouco interesse. O quadro só deve

melhorar com a volta da confiança na economia.

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