Com a crise hidrológica iniciada em 2012, o país aumentou o foco em projetos de energia renovável e, nos anos seguintes, foram promovidos mais leilões para geração a partir de fontes alternativas. Depois de dois a três anos dos leilões, as companhias precisam entregar a energia contratada e, por isso, têm necessidade de caixa para fazer frente aos investimentos. O setor conta com financiamento do BNDES e, quando as empresas participam dos leilões, as condições de financiamento já são dadas. Uma parcela pequena é financiada pelo mercado de capitais - cerca de 20%, segundo Marina. Algumas vezes, o próprio BNDES subscreve as debêntures. "Há movimento para captação nesse setor porque empresas ganharam concessões em leilões recentes, sobretudo no Sul e no Nordeste, onde venta bastante, e pelo momento atual do cronograma precisam entregar energia em breve. A fase atual é de levantamento de recursos e o mercado de capitais serve como fonte suplementar", diz Ricardo Russo, sócio do escritório Pinheiro Neto. Russo lembra que, em alguns projetos, o BNDES aceita compartilhar garantias, o que traz mais facilidade para fazer a operação via mercado. Russo destaca também uma terceira fonte de recursos - a Caixa Econômica Federal. Segundo ele, a Caixa capta via BNDES e repassa o dinheiro para as companhias, ganhando um spread. O caminho mais eficiente, mas não tão frequente quanto desejado, é a captação via debêntures de infraestrutura, que seguem as regras da Lei nº 12.431, que dá isenção ao investidor pessoa física. De acordo com Teixeira, do Itaú BBA, o mercado voltado para pessoa física está aquecido neste ano, mas a procura tem sido por títulos com prazos mais curtos. Por isso, há pouco interesse por papéis de infraestrutura, que geralmente têm prazo mais longo. "Vimos um começo de ano forte para títulos incentivados, mas a maior parte é de certificados de recebíveis do agronegócio (CRA). Debêntures de infraestrutura, só vimos uma operação. Tivemos um volume interessante para esse investidor, mas com prazos menores aos que as debêntures exigem", diz. Hans Lin, responsável pelo banco de investimento do Bank of America Merrill Lynch, afirma que o setor de energia tem vários projetos com necessidade de financiamento, mas pondera que o mercado local de dívida é muito dependente dos bancos e, no momento, está mais restritivo. "Não vemos abundância para o setor", diz. Segundo Lin, as emissões vistas no mercado são "oportunistas". Ele pondera que, no geral, a situação não está fácil para as empresas, que muitas vezes precisam recorrer à venda de ativos. "Vemos o mercado de fusões e aquisições muito ativo. Empresas não conseguem financiar o projeto e optam por vender para quem tem condições de colocar a operação de pé", afirma. (Valor Econômico – 24.05.2016)