O primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong (esq.), vê a TPP como um teste de credibilidade para os EUA. O presidente Barack Obama (dir.) é um grande defensor do pacto, que ainda precisa ser aprovado pelo Congresso americano.
O problemático acordo comercial da região do Pacífico, defendido pelo presidente Barack Obama como uma forma de combater o excesso de influência da China na Ásia, pode se tornar um fracasso da política externa americana na região.
As autoridades dos Estados Unidos vêm há anos promovendo a Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês) como essencial para a alocação de forças militares e outros recursos dos EUA na Ásia. Agora, com as resistências ao acordo crescendo tanto no partido do governo quanto na oposição, as chances de a TPP ser ratificada no Congresso americano parecem remotas.
Um fracasso a esta altura, dizem analistas, iria comprometer a credibilidade dos EUA em áreas que vão do comércio até o comprometimento do país com uma região que ele apoia desde a Segunda Guerra Mundial.
“Pela simples razão de os EUA terem investido tanto nele, o acordo adquiriu um certo valor totalitário que vai bem além de seu mérito econômico”, diz Euan Ghaham, ex-autoridade de relações exteriores do Reino Unido que estuda segurança regional no Instituto Lowy para Políticas Internacionais, em Sydney. “Deixar os parceiros asiáticos a ver navios seria desastroso para a liderança americana na região.”
O governo Obama continua alimentando esperanças de aprovar a TPP. Em uma votação, “vamos ou cimentar nossa liderança na região ou entregar as chaves do castelo para a China”, diz Mike Froman, representante de Comércio Exterior dos EUA. Mas esse argumento não ajudou a solidificar o apoio no Congresso, onde o pacto encontra oposição entre a maioria dos legisladores do Partido Democrata, de Obama, e vem perdendo apoio de importantes representantes republicanos que defenderam a TPP e outros acordos comerciais durante anos. Além disso, os dois candidatos à presidência também têm atacado o tratado. Na semana passada, o senador republicano Pat Toomey, ex-presidente do Club for Growth, um grupo que defende a economia de livre mercado, manifestou-se contra a TPP numa tentativa de atrair os votos da classe trabalhadora nas eleições para o Senado, que também se realizam em novembro.
Ao mesmo tempo, a candidata democrata à presidência, Hillary Clinton, está sob crescente pressão da ala esquerdista de seu partido para refutar definitivamente a TPP, que ela apoiou quando era secretária de Estado de Obama. Ela diz se opor ao tratado em sua forma atual.
A estratégia americana de priorizar a Ásia, lançada em 2011, foi fruto da preocupação com os esforços da China para transformar poder econômico em poder de fato numa região de importância crescente. As tensões têm crescido na Ásia onde a China vem desafiando o domínio militar dos EUA ao reivindicar ilhas no Mar da China Meridional e protestar contra sistemas antimíssil dos EUA na Coreia do Sul.
O acordo proposto para a TPP, finalizado em 2015, iria cortar ou reduzir cerca de18 mil tarifas de um grupo de 12 países do Pacífico nas Américas, Ásia e Oceania — uma área responsável por 40% da economia global.
A China, que não faz parte da TPP, está negociando um pacto separado para a Ásia que exclui os EUA. A China também está prometendo mais empréstimos regionais através de um novo banco e de um fundo estatal de US$ 40 bilhões, chamado de Silk Road (Caminho da Seda).
Muitos especialistas em comércio dizem que o governo Obama exagera ao definir o tratado como vital para decidir se os EUA ou a China vão escrever as regras do comércio mundial. O acordo apoiado pela China não cria nenhuma nova estrutura comercial, sendo apenas uma iniciativa convencional de corte de tarifas menos ambiciosa que a TPP. Os dois pactos também não excluem um ao outro. A intenção dos países asiáticos sempre foi de se unir aos dois.
Mas imbuir a TPP de implicações geopolíticas elevou as apostas. “Para os amigos e parceiros dos EUA, ratificar [o acordo] é um teste decisivo para a credibilidade e seriedade de intenções” do país, disse o primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong, durante visita à Casa Branca neste mês.
É verdade que os EUA já estão profundamente integrados à Ásia através de uma forte relação de comércio com a China e outras economias, e também possuem tratados de defesa com países como Japão, Coreia do Sul e Filipinas. Esses laços americanos com a Ásia não devem mudar seja qual for o destino da TPP, dizem muitos especialistas.
Mas é menos provável que os líderes da Ásia que gastaram capital político para apoiar a TPP voltem a fazê-lo se o acordo fracassar, dizem especialistas. Pequenos países que vivem equilibrando suas relações com a China e os EUA podem duvidar dos EUA no futuro e se alinhar com Pequim.
Obama convenceu os países a fazer coisas como parte de um esforço para “mostrar que podemos fazer frente à China de certa forma”, diz Yukon Huang, ex-diretor para a China do Banco Mundial e associado sênior do grupo de estudos Carnagie Endowment for International Peace, que defende a cooperação internacional. Esses países se tornarão mais céticos se a TPP não for aprovada, diz ele.
O Vietnã é um bom exemplo, considerado o grande beneficiado do acordo, com um impulso estimado de 11% em sua economia até 2025. Quarenta anos depois de se enfrentarem em uma guerra, os EUA e o Vietnã estão se aproximando em meio a preocupações comuns com a expansão chinesa no Mar da China Meridional, região que o Vietnã também reivindica. Neste ano, os EUA levantaram um embargo para venda de armas letais ao Vietnã. O país comunista obteve isenções especiais para se unir ao pacto.
“Ainda esperamos que Obama possa ratificar o acordo nos seus últimos meses de governo”, diz Luong Van Tu, ex-vice-ministro do Comércio Exterior do Vietnã.
Mas ninguém tem mais a perder que o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, o aliado mais próximo dos EUA na região. O líder tornou o pacto essencial para suas estratégias domésticas e estrangeiras — e enfrentou oposição significativa do poderoso lobby agrícola japonês e outros interesses locais.
O plano de Abe, conhecido como “Abeconomia”,para tirar a economia japonesa de seu longo marasmo apoia-se na TPP como motor de expansão e reforma. No cenário internacional, o acordo também é central para a estratégia mais ampla de Abe de conter a China organizando os países do leste asiático sob a influência econômica dos EUA.
Se a TPP fracassar, “haverá um impacto muito negativo do ponto de vista de segurança econômica”, diz Yorizumi Watanabe, professor da Universidade Keio, em Tóquio (The Wall Street Journal, 22/8/16)
O primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong (esq.), vê a TPP como um teste de credibilidade para os EUA. O presidente Barack Obama (dir.) é um grande defensor do pacto, que ainda precisa ser aprovado pelo Congresso americano.
Legenda: O primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong (esq.), vê a TPP como um teste de credibilidade para os EUA. O presidente Barack Obama (dir.) é um grande defensor do pacto, que ainda precisa ser aprovado pelo Congresso americano.
O problemático acordo comercial da região do Pacífico, defendido pelo presidente Barack Obama como uma forma de combater o excesso de influência da China na Ásia, pode se tornar um fracasso da política externa americana na região.
As autoridades dos Estados Unidos vêm há anos promovendo a Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês) como essencial para a alocação de forças militares e outros recursos dos EUA na Ásia. Agora, com as resistências ao acordo crescendo tanto no partido do governo quanto na oposição, as chances de a TPP ser ratificada no Congresso americano parecem remotas.
Um fracasso a esta altura, dizem analistas, iria comprometer a credibilidade dos EUA em áreas que vão do comércio até o comprometimento do país com uma região que ele apoia desde a Segunda Guerra Mundial.
“Pela simples razão de os EUA terem investido tanto nele, o acordo adquiriu um certo valor totalitário que vai bem além de seu mérito econômico”, diz Euan Ghaham, ex-autoridade de relações exteriores do Reino Unido que estuda segurança regional no Instituto Lowy para Políticas Internacionais, em Sydney. “Deixar os parceiros asiáticos a ver navios seria desastroso para a liderança americana na região.”
O governo Obama continua alimentando esperanças de aprovar a TPP. Em uma votação, “vamos ou cimentar nossa liderança na região ou entregar as chaves do castelo para a China”, diz Mike Froman, representante de Comércio Exterior dos EUA. Mas esse argumento não ajudou a solidificar o apoio no Congresso, onde o pacto encontra oposição entre a maioria dos legisladores do Partido Democrata, de Obama, e vem perdendo apoio de importantes representantes republicanos que defenderam a TPP e outros acordos comerciais durante anos. Além disso, os dois candidatos à presidência também têm atacado o tratado. Na semana passada, o senador republicano Pat Toomey, ex-presidente do Club for Growth, um grupo que defende a economia de livre mercado, manifestou-se contra a TPP numa tentativa de atrair os votos da classe trabalhadora nas eleições para o Senado, que também se realizam em novembro.
Ao mesmo tempo, a candidata democrata à presidência, Hillary Clinton, está sob crescente pressão da ala esquerdista de seu partido para refutar definitivamente a TPP, que ela apoiou quando era secretária de Estado de Obama. Ela diz se opor ao tratado em sua forma atual.
A estratégia americana de priorizar a Ásia, lançada em 2011, foi fruto da preocupação com os esforços da China para transformar poder econômico em poder de fato numa região de importância crescente. As tensões têm crescido na Ásia onde a China vem desafiando o domínio militar dos EUA ao reivindicar ilhas no Mar da China Meridional e protestar contra sistemas antimíssil dos EUA na Coreia do Sul.
O acordo proposto para a TPP, finalizado em 2015, iria cortar ou reduzir cerca de18 mil tarifas de um grupo de 12 países do Pacífico nas Américas, Ásia e Oceania — uma área responsável por 40% da economia global.
A China, que não faz parte da TPP, está negociando um pacto separado para a Ásia que exclui os EUA. A China também está prometendo mais empréstimos regionais através de um novo banco e de um fundo estatal de US$ 40 bilhões, chamado de Silk Road (Caminho da Seda).
Muitos especialistas em comércio dizem que o governo Obama exagera ao definir o tratado como vital para decidir se os EUA ou a China vão escrever as regras do comércio mundial. O acordo apoiado pela China não cria nenhuma nova estrutura comercial, sendo apenas uma iniciativa convencional de corte de tarifas menos ambiciosa que a TPP. Os dois pactos também não excluem um ao outro. A intenção dos países asiáticos sempre foi de se unir aos dois.
Mas imbuir a TPP de implicações geopolíticas elevou as apostas. “Para os amigos e parceiros dos EUA, ratificar [o acordo] é um teste decisivo para a credibilidade e seriedade de intenções” do país, disse o primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong, durante visita à Casa Branca neste mês.
É verdade que os EUA já estão profundamente integrados à Ásia através de uma forte relação de comércio com a China e outras economias, e também possuem tratados de defesa com países como Japão, Coreia do Sul e Filipinas. Esses laços americanos com a Ásia não devem mudar seja qual for o destino da TPP, dizem muitos especialistas.
Mas é menos provável que os líderes da Ásia que gastaram capital político para apoiar a TPP voltem a fazê-lo se o acordo fracassar, dizem especialistas. Pequenos países que vivem equilibrando suas relações com a China e os EUA podem duvidar dos EUA no futuro e se alinhar com Pequim.
Obama convenceu os países a fazer coisas como parte de um esforço para “mostrar que podemos fazer frente à China de certa forma”, diz Yukon Huang, ex-diretor para a China do Banco Mundial e associado sênior do grupo de estudos Carnagie Endowment for International Peace, que defende a cooperação internacional. Esses países se tornarão mais céticos se a TPP não for aprovada, diz ele.
O Vietnã é um bom exemplo, considerado o grande beneficiado do acordo, com um impulso estimado de 11% em sua economia até 2025. Quarenta anos depois de se enfrentarem em uma guerra, os EUA e o Vietnã estão se aproximando em meio a preocupações comuns com a expansão chinesa no Mar da China Meridional, região que o Vietnã também reivindica. Neste ano, os EUA levantaram um embargo para venda de armas letais ao Vietnã. O país comunista obteve isenções especiais para se unir ao pacto.
“Ainda esperamos que Obama possa ratificar o acordo nos seus últimos meses de governo”, diz Luong Van Tu, ex-vice-ministro do Comércio Exterior do Vietnã.
Mas ninguém tem mais a perder que o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, o aliado mais próximo dos EUA na região. O líder tornou o pacto essencial para suas estratégias domésticas e estrangeiras — e enfrentou oposição significativa do poderoso lobby agrícola japonês e outros interesses locais.
O plano de Abe, conhecido como “Abeconomia”,para tirar a economia japonesa de seu longo marasmo apoia-se na TPP como motor de expansão e reforma. No cenário internacional, o acordo também é central para a estratégia mais ampla de Abe de conter a China organizando os países do leste asiático sob a influência econômica dos EUA.
Se a TPP fracassar, “haverá um impacto muito negativo do ponto de vista de segurança econômica”, diz Yorizumi Watanabe, professor da Universidade Keio, em Tóquio (The Wall Street Journal, 22/8/16)