22/09/2016
O Federal Reserve (Fed), banco central americano, manteve os juros de curto prazo inalterados ontem, mas indicou que ainda espera elevar a taxa de referência antes do fim do ano, num sinal de que seus dirigentes, divididos sobre quando recuar nas políticas de estímulo, alcançaram uma trégua.
A presidente do Fed, Janet Yellen, ofereceu uma análise otimista sobre a economia dos Estados Unidos, notando que o crescimento acelerou depois de um primeiro semestre bastante lento, com a renda das famílias crescendo solidamente e trabalhadores voltando ao mercado de trabalho, depois de anos sem sequer procurar emprego.
Mesmo assim, Yellen está sem pressa de elevar os juros para esfriar a economia porque a inflação continua abaixo da meta de 2% ao ano e o número maior de trabalhadores disponíveis está impedindo que os salários aumentem.
Numa tentativa de equilibrar visões divergentes dentro do Fed, entre as autoridades que queriam elevar os juros na reunião encerrada ontem e aquelas que preferiam esperar, Yellen decidiu adiar qualquer medida, sinalizando, ao mesmo tempo, que deve ocorrer uma alta antes do fim do ano.
“Nós julgamos que as justificativas para um aumento ganharam força, mas decidimos esperar, por enquanto, pela continuação do progresso em direção a nossos objetivos”, disse Yellen durante a coletiva de imprensa realizada após a reunião.
Os dirigentes reduziram suas estimativas tanto para o crescimento no longo prazo como para a trajetória dos juros. Eles agora anteveem somente uma alta de juros neste ano, duas no próximo e três em 2018 e 2019. Na reunião de junho, eles projetaram duas altas em 2016, três em 2017 e mais três em 2018. O Fed prevê agora que o crescimento de longo prazo se estabilize em 1,8% por ano, ante 2% estimados em junho.
Yellen disse que as mudanças são um reconhecimento de que o crescimento da produtividade “vai provavelmente continuar baixo por um período prolongado”.
Os investidores receberam bem a decisão do Fed de não mexer nos juros. A Média Industrial Dow Jones avançou 0,9%, para 18293,7 pontos. Os preços dos títulos de dívida também subiram, derrubando o rendimento das notas do Tesouro americano (Treasury) em 0,019 ponto percentual, para 1,668% ao ano.
A decisão ilustra a falta de urgência na liderança do Fed quanto a aumentar os juros, mas também o desafio enfrentado por Yellen para conciliar as visões divergentes dentro da instituição.
Três presidentes de regionais do Fed —Esther George, de Kansas City, Loretta Mester, de Cleveland, e Eric Rosengren, de Boston — disseram que votaram contra a decisão porque queriam elevar os juros. Isso marca um nível raro de discordância durante o mandato de Yellen. A última vez que três dirigentes votaram contra o consenso foi em dezembro de 2014.
Previsões divulgadas pelo Fed ontem mostraram que 10 das 17 autoridades esperavam elevar os juros de referência do banco central, a chamada taxa dos fundos federais — que se aplica a empréstimos interbancários overnight — em 0,25 ponto percentual até dezembro, para um intervalo entre 0,5% e 0,75% ao ano. Três dirigentes não viram razão sequer para uma alta neste ano. Quatro outros, por sua vez, queriam mais de um aumento, o que novamente reflete as divisões mais amplas dentro do banco central sobre o que fazer daqui para frente.
Embora esteja demonstrando paciência para elevar os juros, o Fed vem descrevendo a economia de forma geralmente otimista.
De fato, os dirigentes do banco vêm se preocupando menos com os riscos do cenário econômico, uma possível justificativa para uma alta de juros antes do fim do ano. As preocupações das autoridades aumentaram no início do ano devido a uma série de problemas globais, como a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia e as incertezas sobre a economia da China. Em seu comunicado de política monetária divulgado após a reunião, o Fed afirmou que os riscos haviam se tornado “mais equilibrados”, o que significa que a economia tem uma boa chance tanto de superar a estimativa de crescimento do Fed como a de ficar aquém dela.
Essa avaliação de risco é frequentemente uma pista das intenções do Fed de elevar os juros nos meses posteriores. Quando os dirigentes identificam riscos preocupantes, eles não se sentem inclinados a aumentar os juros.
Yellen observou que a taxa de desemprego nos EUA se manteve estável em ou próximo a 4,9% desde o início do ano, mesmo com a criação de cerca de 180 mil novos empregos por mês até agora em 2016. Isso indica que novos trabalhadores em potencial estão voltando a procurar emprego e impedindo um superaquecimento no mercado de trabalho.
“Concluímos que a economia tem um pouco mais de espaço” para crescer, disse Yellen.
A próxima reunião de política monetária do Fed, em 1º e 2 de novembro, acontecerá uma semana antes da eleição presidencial nos EUA, o que torna improvável uma alteração nos juros. Com isso, a reunião de meados de dezembro seria a última chance do Fed para elevar os juros neste ano. O mercado futuro indica que os operadores atribuem uma probabilidade de 59% para uma alta de juros na reunião de dezembro (The Wall Street Journal, 22/9/16)