Notícias do setor
23/02/2021
Notícias do Setor

Passivos da CEEE-GT ficarão com a transmissora

Com a recente aprovação dos acionistas da separação da CEEE-GT, que agregava as áreas de geração e transmissão de energia e agora será desmembrada em CEEE-G e CEEE-T, a expectativa do governo do Estado é obter valores maiores com as privatizações dessas empresas. Mas, além disso, o presidente do Grupo CEEE, Marco da Camino Soligo, afirma que essas companhias serão mais eficientes dessa forma. Uma medida que foi tomada para equilibrar as novas empresas foi concentrar os passivos após a divisão no segmento de transmissão, que tem maior porte e ativos mais valiosos, deixando a geradora, apesar de menor, mais enxuta.

Conforme o dirigente, a transmissora tem uma receita anual de cerca de R$ 1 bilhão, enquanto o desempenho da geradora é superior a R$ 550 milhões. Porém, o presidente do Grupo CEEE comenta que esse último número poderá aumentar em breve, pois em janeiro de 2022 as gerações de algumas usinas da estatal serão descontratadas e os novos acordos poderão render valores até melhores para a companhia. Devido à desproporcionalidade entre os segmentos, Soligo detalha que a CEEE-T, com a cisão, absorverá dívidas com previdência, com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), que somam cerca de R$ 2 bilhões. Essa medida, frisa o executivo, permite que a CEEE-G nasça com enorme potencial, com R$ 200 milhões em caixa e sem endividamento.

Esse contexto facilitará a tomada de recursos no mercado financeiro para poder modernizar suas usinas, como as hidrelétricas Itaúba, Passo Real e Jacuí, assim como repotencializar suas pequenas centrais hidrelétricas (PCH). Já a sede do grupo em Porto Alegre ficou vinculada à CEEE-T, contudo o terreno não será incluído na privatização da companhia e ficará sob responsabilidade do governo do Estado.

Apesar do desmembramento da CEEE-GT já ter sido aprovado, efetivamente a totalidade dos efeitos dessa ação ainda vai demorar um pouco para ser percebida. "As empresas começam a trabalhar 100% cindidas, internamente no sistema do grupo, a partir do dia 1º de abril", adianta. Enquanto isso, seguem os processos de privatizações das companhias. O presidente do Grupo CEEE informa que a expectativa é que o leilão da área de transmissão ocorra ainda no primeiro semestre deste ano e o da geração no terceiro trimestre. Antes disso, será realizado o certame do segmento de distribuição da estatal, a CEEE-D.

Soligo ressalta que os preços mínimos para iniciar as concorrências das áreas de geração e transmissão deverão ser maiores do que o estipulado para a distribuição, que foi de R$ 50 mil, pelo fato de as empresas serem mais saudáveis financeiramente que a distribuidora. Nos nove primeiros meses de 2020, a CEEE-GT registrou um lucro líquido de cerca de R$ 258,2 milhões, contra prejuízo da CEEE-D de aproximadamente R$ 1,43 bilhão.

Separação deve atrair mais interessados nas companhias

Para o presidente do Grupo CEEE, Marco da Camino Soligo, a divisão dos segmentos de geração e transmissão beneficia o processo de privatização, pois atrairá mais participantes para o leilão, já que são negócios diferentes. "Os especialistas em transmissão não necessariamente também o são na geração", frisa o dirigente.

O executivo enfatiza que a cisão também melhorará as operações dessas empresas e suas relevâncias estratégicas. "Isso é um legado para o Estado. Para o Rio Grande do Sul foi muito bom porque melhorará a eficiência para além da privatização, quem comprar vai gerir melhor do que se as companhias estivessem juntas", aponta. Particularmente quanto à CEEE-G, Soligo revela que está sendo estudada a hipótese de colocar no edital de venda da empresa a obrigação de que o comprador finalize o projeto do parque eólico Povo Novo, um complexo de 52,5 MW em Rio Grande, que já absorveu R$ 158 milhões em investimentos, mas teve a sua obra interrompida em cerca de 27% do seu total.

Já a CEEE-T, antes de ter o seu controle mudando de mãos, deve iniciar neste semestre as obras do lote 6 de leilão de transmissão realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em dezembro do ano passado e vencido pela então CEEE-GT. O conjunto dessas iniciativas compreende uma subestação de energia em Cachoeirinha e linhas de transmissão entre esse município e Gravataí. O órgão regulador estimou como parâmetro R$ 191,9 milhões o investimento necessário para concluir esses empreendimentos, entretanto Soligo calcula que será possível desembolsar menos do que esse montante. Ele acrescenta que a atual projeção da transmissora é investir mais de R$ 1,5 bilhão nos próximos cinco anos.

O dirigente recorda ainda que, nessa disputa de dezembro, foi a primeira vez desde 2002 que a empresa gaúcha venceu um lote de obras de transmissão em um certame participando sem parcerias. Nessa mesma concorrência, o Grupo CEEE disputou os lotes 4 e 5, que entre outras obras incluía a revitalização da subestação Porto Alegre 4, localizada próxima ao shopping Praia de Belas e atualmente gerida pela estatal. Porém, a companhia não conseguiu superar a proposta do Consórcio Saint Nicholas I, formado pela Mez Energia e Participações e Mez Energia Fundo.

 

EDP focará em aquisição da Celesc se colocada à venda

Empresa não acredita em avanços da RTE no segmento por conta da segunda onda de covid-19 no país

MAURÍCIO GODOI, DA AGÊNCIA CANALENERGIA, DE SÃO PAULO (SP)

O foco da EDP Brasil em distribuição está na Celesc, estatal catarinense onde detém a maior parte do capital social total, participação mais elevada até do que o próprio governo estadual, com 29,9% contra cerca de 20%. Uma eventual privatização da distribuidora atrairia a EDP, confirmou Miguel Setas, que deixou o comando da empresa na sexta-feira, 19 de fevereiro, onde agora é o presidente do Conselho de Administração.

“Em distribuição a nossa prioridade está sobre a Celesc, temos 30% do capital de lá e gostamos do contexto de sua área de concessão e potencial de crescimento”, comentou a jornalistas em coletiva sobre os resultados de 2020 da companhia. “Em Santa Catarina são 3 milhões de consumidores e se participar de uma privatização dobra a nossa escala em distribuição no Brasil”, disse ele.

E acrescentou que o nível de participação total no capital que é por meio de ações preferenciais é um sinal importante do interesse na distribuidora catarinense.

Outro assunto que a EDP acompanha é a questão da RTE por conta dos impactos da pandemia de covid-19. Nesse caso, a companhia, afirmou o diretor vice presidente de Finanças, Henrique Freire, não possui expectativas sobre o avanço do tema ainda este ano. Até porque, lembrou, ainda há uma possível segunda onda que deverá ter impactos no segmento. Mas destacou por sua vez que há fatores a serem reconhecidos como a sobrecontratação das concessionárias por conta da redução de mercado no ano passado.

Vale lembrar que a CCEE estima que as distribuidoras deverão ficar com nível de contratação acima do limite regulatório mesmo este ano. A projeção é de que na média fique em 105,1%, ou 0,1% acima do máximo para a cobertura tarifária.

“A sobrecontratação é um bom exemplo do que deveria ser capturado nessa RTE”, comentou. “Não estamos com expectativa de desenvolvimentos desse tema nos próximos meses. A pandemia não acabou e infelizmente teremos impacto da segunda onda, economicamente ainda devermos ter muitos meses e estamos cautelosos com isso”, acrescentou.

O executivo disse ainda que esse posicionamento da EDP decorre de uma precaução ante uma possibilidade de nova piora dos indicadores de perdas e inadimplência, resultado da retração da renda da população, apesar de ainda não ser visível esses efeitos nos dois primeiros meses de 2021.

Pressão recua e ação da Eletrobras cai 0,69%

Apesar da turbulência no início do dia, as ações da estatal recuperaram o valor ao longo do dia e fecharam com a menor desvalorização do dia no Índice de Energia Elétrica da B3

MAURÍCIO GODOI, DA AGÊNCIA CANALENERGIA, DE SÃO PAULO (SP

O Índice de Energia Elétrica na B3 encerrou esta segunda-feira, 22 de fevereiro, em queda de 3,48% ante o fechamento do último pregão aos 76.214 pontos. O dia começou com uma forte pressão por parte dos investidores que repercutiram as declarações do presidente da República que afirmou no final de semana que a energia elétrica seria outra a sofrer interferência do governo. Contudo, ao longo do dia a queda inicial foi revertida.

Dentre os ativos que compõem a carteira do IEE, foi justamente o papel da Eletrobras (ELET3) que apresentou a menor baixa do dia, de 0,69%, cotada a R$ 28,91. No início do dia o ativo, por ser de uma empresa controlada pelo governo federal,  a incerteza reverberou nos papeis da elétrica que chegaram a ter a maior baixa, na casa de 7%. Mas esse movimento reverteu e ao final da tarde estava na posição de menor perda da carteira desse índice, composto por 18 empresas com quedas em todas. As maiores perdas ficaram com a CPFE3, da CPFL com queda de 6,99%, CESP6, da Cesp com 5,57% e a LIGT3 da Light com desvalorização de 5,34%.

Esse nível do IEE não chega nem perto da queda que os indicadores passaram quase um ano atrás com a desvalorização recorde do petróleo associada ao início da pandemia de covid-19. Naquela época o índice despencou de cerca de 80 mil pontos para pouco mais de 50 mil pontos em 20 dias no mês de março. Em meados de janeiro deste ano esse nível já havia sido recuperado.

O principal índice de ações do país o Ibovespa encerrou o pregão em queda de 4,87%, a 112.667 pontos. Por razões óbvias foram as ações da Petrobras preferenciais e ordinárias com a maior queda, de 21,51% e de 20,48%, respectivamente, refletindo as declarações da última sexta-feira, 19, acerca das interferências na gestão da empresa.

De acordo com avaliação da agência de classificação S&P, o cenário-base com o qual trabalha considera que a empresa continuaria seguindo sua política de preços de paridade de importação, estabelecida em 2016. Por isso acredita que o anúncio da mudança não tem impacto de crédito imediato sobre a petroleira.

“Ainda assim, mencionamos anteriormente que não havia um longo histórico dessa política sob diferentes administrações, e nossos ratings da empresa continuaram a incorporar os riscos de influência potencial do governo sobre o preço do combustível, o que pode prejudicar a rentabilidade e o fluxo de caixa da empresa. Mesmo se houver uma mudança na direção e na estratégia de preços da Petrobras, nossos ratings da empresa continuariam a refletir o rating soberano, uma vez que o governo federal detém seu controle”, afirmou.

Por sua vez, outra agência, a Moody’s avalia que o anúncio é negativo para o crédito da Petrobras por ter sido originado com base nos aumentos de preços que a companhia vem aplicando. “Evidencia a contínua interferência política nas decisões de negócios da Petrobras, por muitos anos. O petróleo bruto, que é uma matéria-prima primária para a produção de combustível, teve aumento de preço de cerca de 35% até agora em 2021 devido ao aumento da demanda e ao atraso na oferta, especialmente nos EUA”, destacou.

A agência lembrou da greve dos caminhoneiros de 2018 que também levou a mudança no CEO da Petrobras. E que esse evento “irá desencadear mudanças no conselho de administração e na alta administração da empresa, o que prejudicará o trabalho executivo”. E ainda, “acreditamos que o processo de venda das refinarias será atrasado, mas não completamente interrompido devido à natureza de longo prazo das aquisições e porque o risco de interferência do governo nos preços dos combustíveis no Brasil manteve-se inalterado. Contudo, é importante que a Petrobras melhore suas métricas de crédito, uma vez que seu negócio é vulnerável a os preços das commodities e a empresa enfrenta um risco crescente de transição de carbono”, finalizou.

Medo de ingerência em estatais volta à cena e pressiona Ibovespa

O Ibovespa recuperou-se parcialmente à tarde, antes de fechar em baixa de 0,64%, aos 118.430,53 pontos (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)    

Ameaças explícitas do presidente Jair Bolsonaro de troca no comando da Petrobras (PETR4) reavivaram o receio de ingerência do governo federal, colocando ações de estatais na mira de ordens de venda na Bovespa nesta sexta-feira.

Após ter chegado a flertar com as mínimas do mês, o Ibovespa recuperou-se parcialmente à tarde, antes de fechar em baixa de 0,64%, aos 118.430,53 pontos, com influência positiva de Wall Street e com a queda do dólar beneficiando algumas ações.

Na semana encurtada pelo feriado prolongado de Carnaval, o índice teve perda acumulada de 0,83%.

A volatilidade criada com as declarações de Bolsonaro as quais ele mesmo tentou relativizar, negando planos para interferir na política de preços da companhia fez o volume financeiro da sessão somar 35,2 bilhões de reais.

Manifestações dúbias do presidente, que tenta também evitar ameaça de greve de irados caminhoneiros e a insatisfação popular com a escalada dos preços dos combustíveis, foram insuficientes para evitar uma derrocada das ações da petroleira, assim como de outras estatais federais, como Banco do Brasil e Eletrobras, e empresas de outros setores mais sujeitos a regulação do governo.

Para Leonardo Milane economista da VLG Investimentos, o episódio amplia o leque de preocupações do mercado em relação ao Brasil, num ambiente já tomado por um ambiente fiscal frágil e de dúvidas crescentes sobre o andamento de agendas reformistas no Congresso Nacional.

“A agenda política está se sobrepondo à econômica”, disse ele, citando também itens como a possível aprovação de extensão do auxílio emergencial, que muitos temem que resultará na ruptura do teto para gastos públicos.

Um alívio parcial sobre o índice veio de ações que também têm forte peso na composição da carteira, caso de empresas ligadas a commodities metálicas.

Além disso, uma tentativa de recuperação em Wall Street e a queda do dólar contra o real estimularam compras pontuais na bolsa paulista, como de ações de companhias aéreas.

Embora encurtada pelo feriado prolongado de Carnaval, a semana foi marcada por uma nova onda de empresas se preparando para listagem na Bovespa, com cinco pedidos de ofertas iniciais de ações, incluindo dos grupos de saúde, Mater Dei e Caledonia, da produtora de etanol de milho FS, da varejista online Privalia e da fabricante de lâmpada de LED Unicoba.

Além disso, estrearam no mercado Eletromidia, CSN Mineração e Orizon.

A próxima semana começa com o vencimento de opções sobre ações, na segunda.

Além disso, GPA, CSN, Gerdau, Ambev, BRF e Gol, entre outras, dão sequência à temporada de divulgação de balanços do quarto trimestre (Reuters, 19/2/21)

Agenda liberal do governo cai em descrédito após intervenção na Petrobras

Casas e bancos de investimentos revisam preço-alvo para companhia.

Os principais indicadores financeiros do Brasil tiveram forte deterioração nesta segunda-feira (22), após Jair Bolsonaro (sem partido) interferir no comando da Petrobras e sinalizar outras intervenções. Foram afetados Bolsa, câmbio, risco-país, juros futuros, e houve revisão generalizada nas avaliações de bancos, casas de investimento e agências de classificação de risco em relação à Petrobras e outras estatais.

A forte reação do mercado financeiro foi interpretada como uma quebra da confiança do governo com a Faria Lima —avenida na zona oeste de São Paulo, caracterizada por abrigar grandes casas financeiras e bancos de investimentos.

Desde a campanha eleitoral, analistas e economistas do mercado financeiro mantiveram a convicção que a gestão de Jair Bolsonaro, endossada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, preservaria uma agenda mais liberal, se contrapondo aos governos petistas que o antecederam.

Os analistas agora recomendam cautela não apenas com a Petrobras, mas com outras estatais e até com o Brasil, após Bolsonaro indicar o general Joaquim Silva e Luna para a presidência da petroleira, em clara oposição à política de reajustes de preços mantida pelo atual presidente Roberto Castello Branco —e que é endossada pelo mercado.

“A credibilidade da agenda liberal do presidente da República vai ser seriamente questionada pelos agentes do mercado e econômicos, tendo efeitos nos preços não somente da Petrobras, mas também nas diversas empresas estatais de capital aberto, assim como em outros ativos do país, como o real”, afirmou o presidente da corretora BGC Liquidez, Erminio Lucci.

A repercussão negativa levou à venda das ações da Petrobras, fazendo o preço do papel mergulhar e contaminar negativamente ações de empresas brasileiras de modo geral, mas especialmente as de estatais.

Ao final do pregão desta segunda, as ações preferenciais (mais negociadas) da Petrobras fecharam em queda de 21,5%, indo a R$ 21,45. As ordinárias (com direito a voto) despencaram 20,47%, fechando em R$ 21,55.

Segundo o chefe da mesa de futuros da Genial Investimentos, Roberto Motta, essa foi a oitava vez em 26 anos que as ações da Petrobras caíram mais de 20%.

Para se ter uma ideia da agitação que tomou conta do mercado, o volume de negociações das ações da Petrobras no dia ficou em R$ 10,8 bilhões, um recorde. “O volume médio diário, normalmente, é próximo de R$ 1,8 bilhão”, diz Motta.

Na Bolsa de Nova York, as ADRs (certificados de ações negociados nos Estados Unidos) da Petrobras recuaram 21%, a US$ 7,94 cada.

O Ibovespa, principal índice acionário do país, caiu 4,86%, a 112.667,70 pontos, menor patamar desde 3 de dezembro.

O Itaú suspendeu temporariamente a classificação e valor justo atribuídos à Petrobras, enquanto revisam a cobertura da companhia.

“Revisaremos nossas previsões assim que houver mais clareza. Entretanto, sugerimos reduzir a exposição ao nome [Petrobras], pois esperamos uma reação negativa do mercado”, diz relatório do banco publicado no domingo (21).

“O impacto não é só na Petrobras, é um sinal de cautela para as outras estatais. O investidor vê a Bolsa com mais receio”, diz Arthur Spirandelli, especialista em estratégia e alocação da Acqua Investimentos.

Dentre as empresas estatais, também estiveram na mira das negociações nesta segunda Banco do Brasil, que caiu 11,64%, a R$ 28,8 e a Sabesp, do governo paulista, que recuou 4,25%, fechando em R$ 37,58.

As discussões, agora, são sobre quanto da interferência do governo deve respingar nas demais companhias de controle da União e qual será o posicionamento do ministro Guedes diante das decisões do Executivo.

Para o analista da Valor Investimentos Pedro Lang, há inclusive uma preocupação em relação às agendas de privatização e desinvestimentos do governo.

“O apoio da Faria Lima ao governo está por um fio. Ninguém acredita mais no governo. Existe uma leve esperança que alguma reforma passe [no Congresso], mas privatização, nem pensar. O problema é que Bolsonaro caiu em descrédito, e Guedes não consegue emplacar nada, não por falta de vontade, mas por falta de apoio”, disse.

No sábado (20), um dia após ter anunciado a troca da presidência da Petrobras, Bolsonaro sinalizou que que pode fazer novas intervenções. Afirmou que vai “meter o dedo na ener-gia elétrica” e prometeu mais mudanças nesta semana.

“Semana que vem deve ter mais mudança aí... E mudança comigo não é de bagrinho não, é tubarão”, havia afirmado o presidente.

A Eletrobras operou em forte queda, mas reduziu o movimento ao longo do pregão. As ações preferenciais da estatal recuaram 0,17%, a R$ 19,24 cada, e as ordinárias, 0,68%, a R$ 28,91.

“A expectativa é de ingerência em outras estatais. A expectativa do mercado é que André Brandão [presidente do Banco do Brasil] seja demitido”, diz André Machado, sócio-fundador da escola de traders Projeto os 10%.

Em janeiro, o presidente da República já teria ameaçado Brandão de demissão depois de ter se irritado com o plano de enxugamento das estruturas do banco anunciado dias antes.

Depois, em 12 de fevereiro, Brandão afirmou que tais desavenças foram um “problema de comunicação” e que, apesar de ainda não ter conversado diretamente com Bolsonaro, acreditava o presidente tinha entendido.

As ações do Banco do Brasil caíram 11,64%, a R$ 28,83 cada.

Outras estatais também foram penalizadas. As ações preferenciais da Telebras, também estatal, caíram 3,14%, a R$ 27,13. As ordinárias recuaram 4%, a R$ 72. A Sabesp, do governo paulista, recuou 4,25%, a R$ 37,58.

Em um sinal de aversão a risco do mercado e de alta da Selic no curto prazo, os juros futuros subiram.

Juros futuros são taxas de juros esperadas pelo mercado nos próximos meses e anos. São a principal referência para o custo de empréstimos que são liberados atualmente, mas cuja quitação ocorrerá no futuro.

O juro para outubro de 2023 foi de 6% na sexta (19) para 6,17% nesta segunda. A taxa para de julho de 2025 foi de 6,91% para 7,10%.
Segundo analistas, a intervenção de Bolsonaro fortalece a perspectiva de alta da Selic em março — atualmente a taxa está na mínima recorde de 2%.

De acordo com a pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central nesta segunda, a expectativa para a taxa básica de juros subiu para 4% ao final de 2021, de 3,75% na semana anterior. Para 2022, a projeção para o juros foi mantida em 5%.

Outro ponto de tensão é a volta do auxílio emergencial. Investidores temem que o benefício seja aprovado sem contrapartidas fiscais, ameaçando o teto fiscal do governo em 2021.

Casas e bancos de investimentos revisaram suas perspectivas e preços-alvo para as ações da petroleira.

Nesta segunda, além de cortarem a recomendação do Brasil para neutra no portfólio de ações na América Latina, analistas do Bank of America também reduziram a exposição a companhias de controle estatal, excluindo Petrobras e Eletrobras de suas carteiras, enquanto incluiu Klabin, Cosan e Natura. “Nós gostamos do setor financeiro, comércio eletrônico, empresas de pagamentos e proteínas”, destacava o texto.

Os analistas do Credit Suisse também afirmaram enxergar maior risco para as ações da Petrobras, rebaixando as expectativas para os papéis de um desempenho inferior ao mercado. O banco também diminuiu o preço-alvo das ADRs (recibos de ações negociados nos EUA) da Petrobras, de US$ 16 (R$ 88,07) para US$ 8 (R$ 44,03).

Em relatório, os profissionais de mercado do Goldman Sachs disseram que a decisão adiciona incerteza sobre o plano de desinvestimento da companhia.

“Dado o histórico de intervenções governamentais na política de preços da Petrobras, especialmente entre 2011 e 2015, nós acreditamos que o mercado não estará disposto a dar o benefício da dúvida para a companhia no médio prazo até que as possíveis mudanças sejam melhor entendidas”, afirmaram.

Analistas do Bank of America cortaram a recomendação para Brasil para "marketweight", semelhante a neutro, em portfólio de ações na América Latina, bem como reduziram ex-posição a companhias de controle estatal, citando maior incerteza.

 Em contrapartida, os analistas elevaram o Chile para "marketweight". México é agora a única região com "overweight" no portfólio, que pode ser traduzido como expectativa positiva.

As agências de classificação de risco, por sua vez, afirmaram que o rating (nota de risco) da Petrobras não muda por estar atrelado ao rating do país, mas não descartam avaliar a possibilidade de uma revisão caso o cenário mude drasticamente.

“O cenário no qual nos baseamos assume que a empresa continua com sua paridade de importação e com a política de preços estabelecida em 2016. Mas mesmo se houver uma mudança na direção da empresa e na estratégia de preços, nossas classificações continuariam a refletir as do rating soberano, devido ao seu controle acionário”, escreveram Luisa Vilhena e Felipe Speranzini, analistas da S&P.

Em nota, divulgada na sexta-feira, a Fitch Ratings afirmou que uma potencial volta das intervenções políticas na estratégia da Petrobras afetaria negativamente sua geração de caixa. “Esse ponto é particularmente importante em período de desvalorização do real frente ao dólar, que pode elevar os preços da gasolina e do diesel no país, aumentando o risco de interferência [do governo]”, disse (Folha de S.Paulo, 23/2/21)

 

Estudo mostra o poder do CEO na reponsabilidade social da empresa

Eles são responsáveis ​​por uma variação de 30% no desempenho de suas empresas na área

Por Stela Campos

16/02/2021 13h56  Atualizado 2021-02-16T16:56:40.139Z

 

Um novo estudo bastante abrangente realizado com mais de 1.000 empresas dos Estados Unidos, que foram analisadas ao longo de 22 anos, mostra que a influência do CEO resulta em uma diferença de 30% no desempenho das empresas nas áreas de responsabilidade social. Um dado que reacende o debate sobre a real influência que os executivos que estão no comando realmente têm sobre as ações, comportamentos e resultados concretos de uma companhia.

O chamado “efeito CEO” é difícil de medir, devido à confluência de outros fatores -fluxo de caixa, pressões externas, condições de mercado e assim por diante - que também podem moldar e determinar os resultados. Mas a nova pesquisa publicada na The Academy of Management por Georg Wernicke, professor assistente de estratégia e política de negócios da HEC Paris e membro do Instituto Organizações e Sociedade da escola de negócios francesa, sugere que os CEOs de fato detêm uma influência considerável - para melhor ou para pior.

Junto com Miha Sajko e Christophe Boone da Universidade de Antuérpia, Wernicke observou o impacto da influência dos CEOs nos resultados de responsabilidade social corporativa (CSR), que descrevem a contribuição voluntária das empresas para o desenvolvimento sustentável que vai além dos requisitos legais. Segundo os pesquisadores, este é uma área onde é mais fácil medir a influência dos CEOs porque ela está menos suscetível a fatores que estão além do seu controle, como o desempenho financeiro.

Usando técnicas estatísticas para avaliar a interação dos CEOs e a influência nos resultados, Wernicke e seus coautores chegaram à conclusão que os executivos-chefes são responsáveis ​​por uma variação significativa de 30% entre os comportamentos e ações de responsabilidade social corporativa (RSC) em diferentes empresas.

“Em outras palavras, os CEOs parecem ter um controle considerável sobre suas empresas - pelo menos na esfera da responsabilidade social; embora a descoberta também jogue uma nova luz sobre a influência e o poder deles no geral", diz Wernicke. “Neste estudo, olhamos para a responsabilidade social empresarial, porque as ações e políticas organizacionais nesta área são voluntárias e geralmente vão muito além do que é exigido por lei ou regulamento. Os resultados de RSC, neste sentido, nos dão uma visão mais clara da margem de manobra que o principal tomador de decisões terá em uma empresa, dada a natureza voluntária deste tipo de atividade. ”

“Para realmente avaliar o impacto da influência do CEO, examinamos um grande conjunto de dados, entre 1993 e 2015, e calculamos o valor médio da variável - o quanto eles variam entre si em termos de resultados de tipo CSR ao longo do tempo. Em seguida, vimos como esse valor pode mudar dependendo de quem está no comando da empresa como CEO, em oposição a outras coisas, como mudanças nas normas sociais, pressão da indústria ou fluxo de caixa. E descobrimos que a presença de um CEO é responsável por uma boa variação de 30% entre as empresas nesses tipos de atividades, e isso é um nível de influência altamente significativo. ”

“Em termos de cidadania corporativa, isso esclarece a importância de quem você seleciona para administrar seu negócio: um Trump versus um Biden, por exemplo, terá um impacto significativo em seus resultados na teoria, mas, como mostramos, também na prática”, diz Wernicke. “Mas, além da RSC, nossas descobertas sugerem que é provável que os CEOs exerçam uma grande influência sobre as empresas que administram no geral, o que historicamente tem sido um ponto discutível para acadêmicos e profissionais.”

Com base nessa pesquisa, os CEOs “são muito importantes”, diz Wernicke. Sua visão de mundo, valores, posição sobre mudança climática, capitalismo ou até mesmo o tratamento dado aos funcionários ditarão a cultura organizacional, comportamentos e resultados em uma extensão significativa. Como resultado, o pesquisador e seus coautores pedem aos conselhos de administração que reflitam mais profundamente sobre questões como contratação e remuneração para executivos de alto escalão. “Os CEOs são muito importantes. Portanto, talvez seja uma boa ideia garantir que eles sejam devidamente remunerados. Por exemplo, se a cidadania corporativa for uma prioridade. Os conselhos podem pensar em vincular as atividades de RSC a incentivos financeiros para seus principais executivos. ”

 

 

Congelamento do Texas levanta preocupações sobre contas 'ridículas' de taxa variável

6 MIN DE LEITURA

HOUSTON (Reuters) - Em Spring, Texas, cerca de 20 milhas (32 km) ao norte de Houston, Akilah Scott-Amos está enfrentando uma conta de eletricidade de mais de US $ 11.000 neste mês, muito longe de sua conta de US $ 34 nesta época do ano passado .

"O que eu vou fazer?" Scott-Amos, 43, disse. Ela estava entre os milhões de residentes do Texas que perderam energia durante vários dias de frio intenso que causou o colapso da rede elétrica do estado, operada pelo Conselho de Confiabilidade Elétrica do Texas. “Acho que a opção é, o quê, vou pagar? Só não sinto que devíamos fazer isso. ”

O fornecedor de eletricidade da Scott-Amos era a Griddy, uma empresa com sede em Houston que fornece eletricidade no atacado a taxas variáveis ​​por uma taxa mensal de US $ 9,99. Ela e muitos outros que assinaram planos de taxa variável estão enfrentando contas de serviços públicos disparando, já que os preços do gás natural subiram vários milhares por cento em questão de dias durante o frio inesperado.

Mais de uma dúzia de estados atualmente permitem que os clientes assinem contratos com fornecedores de preços variáveis ​​que não sejam suas empresas de distribuição de energia. Como as mudanças climáticas causam eventos climáticos mais imprevisíveis, aqueles que participam de tais planos enfrentam a possibilidade de grandes oscilações em seus custos mensais em partes dos Estados Unidos que raramente experimentam grandes mudanças de temperatura.

O número de clientes americanos que pagam taxas variáveis ​​não é claro, mas em 2019 cerca de 11 milhões de residências e empresas estavam inscritas nos chamados programas de preços dinâmicos, de acordo com a Administração de Informações de Energia dos EUA. Esses planos variam, mas incluem opções de pico de uso, bem como planos de taxa variável.

Os blecautes ocorridos na semana passada no Texas e as contas em alta devem diminuir os esforços em outros estados para introduzir estruturas de preços de serviços públicos mais competitivas, disse John Howat, analista sênior de energia do National Consumer Law Center, um grupo de defesa do consumidor.

Até esta semana, em alguns estados, os fornecedores de energia elétrica pressionavam “para que fosse um vale-tudo, como é no Texas”, disse ele, referindo-se aos planos de taxa variável.

Alguns estados afetados pelas tempestades anunciaram sondagens para aumentar as contas de serviços públicos. O procurador-geral de Oklahoma, Mike Hunter, disse durante uma coletiva de imprensa na segunda-feira que ele analisará se as empresas violaram as leis de Oklahoma que as proíbem de aumentar os preços em mais de 10% para bens ou serviços após uma emergência ser declarada.

“O objetivo é, da forma mais substantiva e produtiva possível, descobrir maneiras de mitigar o impacto desse fenômeno das contas de serviços públicos que esperamos ver nos próximos meses”, disse ele.

UTILITY BILL 'TSUNAMI'

“Definitivamente lutarei contra essa lei o máximo que puder”, disse a ex-cliente da Griddy Lorna Rose, uma assistente administrativa de 33 anos em Dallas, que acumulou cerca de US $ 900 em cobranças antes de conseguir pular para um fornecedor de energia diferente. Sua conta mensal normal é inferior a US $ 100 por mês.

“A última coisa que vou fazer é me estressar com o pagamento dessa conta ridícula. Em primeiro lugar, isso nunca deveria ter acontecido ”, disse ela.

Os reguladores de serviços públicos do Texas proibirão temporariamente as empresas de energia de cobrar os clientes ou desconectá-los por falta de pagamento, disse o governador Greg Abbott no domingo.

O mercado do Texas tem cerca de 7 milhões de clientes residenciais, e a maioria das pessoas não possui planos de taxa variável, disse Catherine Webking, sócia do escritório de advocacia Scott Douglass & McConnico.

Griddy, que tem 29.000 clientes, de acordo com relatos da mídia local, seria responsável por 0,4% do total de clientes residenciais do estado.

“É importante entender que é uma lasca muito pequena”, disse Webking.

No entanto, alguns clientes de concessionárias com planos de taxa fixa também podem receber contas mais altas.

A CPS Energy de San Antonio, a maior empresa municipal de gás e eletricidade do país, com mais de 840.000 clientes, normalmente repassa as cobranças de combustível aos clientes para gerar ou comprar energia.

Na sexta-feira, ele disse no Twitter que consideraria distribuir as contas de serviços públicos dos clientes ao longo de 10 anos. Esse tweet gerou uma tempestade de críticas, com vários comentaristas comparando tal projeto de lei a uma hipoteca.

“Teremos um tsunami em todo o estado associado à acessibilidade do cliente”, disse a presidente-executiva Paula Gold-Williams em uma entrevista coletiva na segunda-feira, acrescentando que o CPS não acrescentaria esses custos às contas enquanto buscava alívio do estado.

Os preços do gás natural subiram até 16.000% durante a tempestade, e a CPS não tinha oferta suficiente, nem havia se protegido o suficiente contra os aumentos de preço, disse Gold-Williams. O utilitário ainda não sabia o custo total da tempestade de inverno, acrescentou ela.

Enquanto os consumidores lutam com aumentos repentinos nas contas, algumas empresas lucraram bastante. “Esta semana é como ganhar a sorte grande”, disse Roland Burns, presidente e diretor financeiro da Comstock Resources, fornecedora de gás natural.

Griddy disse em um e-mail de resposta automática à Reuters que estava em negociações com a ERCOT para obter alívio para os clientes expostos a "preços fora do mercado". Acrescentou que possui um plano de diferimento para clientes com saldo negativo.

Isso pode não ajudar clientes como Scott-Amos.

“Não tenho certeza do que devo fazer”, disse ela. “Devo tirar do meu 401K? Devo pedir um empréstimo? ”

Reportagem de Stephanie Kelly, Peter Szekely e Jennifer Hiller; reportagem adicional de Jessica Resnick-Ault e Brad Brooks; edição por Richard Pullin

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