Proposta sugere empreendimentos sem contrato no ambiente regulado e que não tenham iniciado as obras
SUELI MONTENEGRO, DA AGÊNCIA CANALENERGIA, DE BRASÍLIACOMPARTILHAR
A Agência Nacional de Energia Elétrica abriu tomada de subsídios para discutir a inclusão de usinas sem contrato no ambiente regulado e que não tenham iniciado obras nas simulações do Programa Mensal de Operação, realizadas pelo Operador Nacional do Sistema. A proposta da Aneel sugere um aumento de 7,4 GW, equivalente a 66% do total da potência em implantação no pais, no cálculos mensais do ONS para o PMO.
A assimilação de um novo conjunto de usinas seria feita em fase de testes a partir janeiro de 2022 (modalidade sombra), com acompanhamento dos impactos da adoção da nova sistemática até dezembro do ano que vem. Atingidos os objetivos, haveria a adoção definitiva a partir de janeiro de 2023.
De acordo com a agência, em agosto de 2020 havia 30,4 GW de potência que ainda não estavam em operação comercial, dos quais 12,8 GW, ou 42% do total, são simulados no PMO pelas regras atuais.
Dados mais recentes da Aneel, de fevereiro de 2021, mostram que existem 683 usinas em implantação no país que não venderam energia em leilões regulados, somando 24.472 MW a serem instalados. Desses empreendimentos, apenas 126 (4.687 MW) são considerados na simulação do ONS na elaboração do PMO, por serem usinas com obras em andamento.
O modelo proposto, segundo a Aneel, estabelece um fluxo de decisão para os casos de obras em implantação; projetos com contrato de energia definido no ambiente regulado ou PPA assinado no ambiente livre; além de empreendimentos com contrato de uso dos sistemas de transmissão ou de distribuição (Cust/Cusd) assinado, conjugado com obtenção de Licença Prévia ou de Licença de Instalação.
Estudos realizados pelo ONS e pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica analisaram os impactos do aumento de usinas fora do ACR no âmbito do PMO na formação do Preço de Liquidação das Diferenças, no Custo Marginal de Operação, na geração térmica e no GSF. Na avaliação, foram utilizados tanto a projeção da carga da Revisão Extraordinária de 2020, elaborada após o início da pandemia, como a carga do Planejamento Anual de 2020, elaborado em janeiro do ano passado, antes do início da crise sanitária. A ideia, neste último caso, era traduzir condições operativas mais próximas de como o sistema funciona em uma perspectiva estrutural, de mais longo alcance.
O trabalho revela um incremento energético mais significativo ao final do horizonte de simulação do PMO, sendo que o maior incremento, de 2.869 MW médios, ocorre em setembro de 2024.
Simulação feita para semanas operativas de agosto do ano passado mostraram que a nova proposta atinge uma redução do CMO de até 12,44 R$/MWh (7,2%), considerando a projeção da carga pré-pandemia em todos os subsistemas. Já em uma avaliação estrutural para o subsistema Sudeste/Centro-Oeste, baseada na projeção de carga pré-pandemia e ao longo de todo o horizonte remanescente do PMO, concluiu que haveria redução do CMO de até 32% (115,25 R$/MWh) em julho de 2023.
Em relação à formação do PLD, os impactos de curto prazo, considerando as semanas operativas de agosto de 2020, mostram redução de até 7,18 R$/MWh (4,3%), em todos os subsistemas, exceto o Nordeste. Já os efeitos relacionados ao fator de ajuste do Mecanismo de Realocação de Energia, o GSF, também foram de redução, mais expressiva ao final do horizonte de estudo. Na média, a queda foi de 93,1% para 92,0%, com a expansão das usinas do ACL.
“Diante das reduções mais expressivas do preço em comparação aos volumes de geração hidráulica, é possível que, em termos relativos, a combinação dos efeitos dos dois fatores (GSF e PLD) leve a uma redução estrutural de custos atrelados ao risco hidrológico”, destaca a nota técnica da Aneel, ao comentar o trabalho do ONS e da CCEE.
O estudo também recomenda especial atenção para a consideração de critérios elétricos na nova proposta, para garantir que haverá disponibilidade de sistema de transmissão para escoamento da energia a ser gerada. Para isso, o ONS e a CCEE recomendam como requisito mínimo para simulação de usinas no PMO a obtenção de Solicitação de Acesso aceita pelo ONS ou da distribuidora.
A agência vai receber contribuições até 21 de junho, o que inclui respostas ao questionário que estará disponível com as notas técnicas da Aneel e do ONS/CCEE.
RWE e BASF planejam projeto de energia eólica de US $ 4,9 bilhões
Reuters
A gigante química BASF (BASFn.DE) e a concessionária alemã RWE (RWEG.DE) anunciaram na sexta-feira um projeto potencial de energia eólica offshore de 4 bilhões de euros (US $ 4,9 bilhões) para reduzir as emissões na planta industrial mais intensiva em energia da Alemanha.
Como parte do projeto, que depende de uma legislação mais favorável, a RWE planeja construir um parque eólico offshore de 2 gigawatts (GW) até 2030 para ajudar a abastecer o complexo químico Ludwigshafen da BASF, o maior consumidor de eletricidade da Alemanha.
A BASF terá 49% do parque eólico, disse o CEO da RWE Markus Krebber, acrescentando que enquanto 80% da produção da fazenda iria para Ludwigshafen, o quinto restante será usado para alimentar um eletrolisador de 300 megawatts para produzir o chamado hidrogênio verde."Sem a disponibilidade de volumes suficientes de eletricidade de fontes renováveis a preços competitivos, nossa transformação futura não será possível", disse o presidente-executivo da BASF, Martin Brudermueller.
O destino do projeto depende de uma série de fatores regulatórios, incluindo licitações mais rápidas para locais potenciais no Mar do Norte, bem como a energia renovável sendo isenta de pesadas taxas de energia verde na Alemanha.A demanda por eletricidade em Ludwigshafen deve triplicar até 2035, disse Brudermueller em entrevista coletiva realizada em conjunto com a RWE, acrescentando que o parque eólico atenderia a cerca de um quarto das necessidades de energia do centro de produção de produtos químicos de sua empresa.
Goldman prevê petróleo chegando a US $ 80 / bbl, apesar do provável retorno do abastecimento do Irã Reuters
O Goldman Sachs disse esperar que os preços do petróleo subam para US $ 80 por barril no quarto trimestre deste ano, argumentando que o mercado subestimou uma recuperação na demanda, mesmo com uma possível retomada da oferta iraniana.
"O argumento para preços mais altos do petróleo, portanto, permanece intacto, dado o grande aumento na demanda por vacinas em face da oferta inelástica", disse o banco em nota datada de domingo.Mesmo "assumindo agressivamente" um reinício das exportações iranianas em julho, os preços do Brent ainda atingiriam a marca de US $ 80 no quarto trimestre, disse a agência.
Os preços do petróleo caíram na semana passada depois que o presidente do Irã, Hassan Rouhani, disse que os Estados Unidos estavam prontos para suspender as sanções aos setores de petróleo, bancos e transporte de Teerã.
O petróleo recuperou algumas dessas perdas na segunda-feira, já que um obstáculo potencial emergiu na revivificação do acordo nuclear com o Irã de 2015, que poderia adicionar mais fornecimento de petróleo, com negociações indiretas entre Washington e Teerã devendo ser retomadas esta semana. consulte Mais informaçãoO Goldman Sachs disse que a recuperação da demanda nos mercados desenvolvidos compensaria o recente impacto causado pelo coronavírus no consumo e, provavelmente, uma recuperação mais lenta no sul da Ásia e na América Latina.
A demanda global pode aumentar em 4,6 milhões de barris por dia até o final do ano, com a maioria dos ganhos prováveis nos próximos 3 meses, disse a empresa.
"A mobilidade está aumentando rapidamente nos EUA e na Europa, à medida que as vacinações se aceleram e os bloqueios são suspensos, com o frete e a atividade industrial também em alta", disse a nota.O banco também espera que a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) e aliados, incluindo a Rússia, um grupo conhecido como OPEP +, compensem qualquer aumento na produção do Irã interrompendo por dois meses um aumento em sua produção no segundo semestre de 2021 .Isso ajudaria a compensar o impacto de baixa percebido no mercado físico da liberação de armazenamento flutuante iraniano, disse o relatório.
Por anos, analistas de mercado e investidores estrangeiros insistiram em uma tese sobre a economia brasileira: a de que a aprovação de reformas estruturais seria vital para que o país entrasse em uma trajetória de crescimento semelhante a de outros emergentes, como Índia e China.
A equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, vem correndo contra o tempo para aprovar ainda este ano algumas dessas reformas desejadas por investidores — antes que o calendário do Congresso fique praticamente paralisado por conta das eleições de 2022.
No entanto, consultorias que trabalham diretamente com investidores estrangeiros disseram à BBC News Brasil que hoje a maior preocupação dos investidores estrangeiros não é com a aprovação de reformas — mas sim com a credibilidade e permanência do ministro Paulo Guedes no governo e com o andamento da pandemia de coronavírus.
Na visão dos analistas, as duas reformas com maior expectativa de serem votadas neste ano — a tributária e a administrativa — são vistas como importantes por investidores estrangeiros para melhorar as perspectivas de longo prazo do Brasil, mas nenhuma delas têm impacto imediato no que eles enxergam como o grande desafio da economia: que é evitar que a trajetória da dívida brasileira saia de controle.
O Brasil tem hoje uma relação dívida/PIB próxima de 90% — um patamar considerado alto para alguns países emergentes.
A forma de reduzir o tamanho do endividamento é produzindo superávits fiscais, ou seja, com a máquina pública arrecadando mais dinheiro do que gasta. No entanto, o Brasil vem produzindo déficits fiscais, e a pandemia agravou ainda mais essa situação, já que o governo se viu obrigado a gastar mais para compensar a redução brusca na atividade econômica.
Caso o endividamento saísse de controle, investidores estrangeiros passariam a duvidar da capacidade do Brasil de controlar sua inflação (já que, sem recursos suficientes de arrecadação, seria necessário emitir mais moeda ou refinanciar os empréstimos) e uma recuperação econômica — com a volta de empregos e crescimento — estaria ameaçada.
Para investidores estrangeiros, mesmo que as duas reformas na pauta não passassem este ano no Congresso, a trajetória da dívida nos próximos anos não dependeria exclusivamente delas.
Eles estão mais preocupados com o compromisso do governo de Jair Bolsonaro de não estourar o teto de gastos — ou seja, de aumentar desenfreadamente o gasto do orçamento, sem se preocupar se o Brasil tem capacidade ou não de suportar esses custos.
As duas maiores ameaças para a economia brasileira seriam uma eventual saída de Paulo Guedes, com entrada de um ministro da Economia mais "gastador", e uma piora da pandemia, que exigiria mais gastos, como o com auxílio emergencial, visto como vital para os brasileiros nos momentos de agravamento da pandemia.
A visão dos investidores estrangeiros contrasta fortemente com o otimismo que se registrava antes da pandemia — quando havia uma empolgação geral com o discurso de Paulo Guedes, que prometia reformas profundas no gasto público e uma agenda robusta de privatizações.
"O investidor estrangeiro, e o mercado em geral, achava que o Paulo Guedes seria o Messi: o número dez da economia, que ia fazer golaço de tudo que é jeito, de calcanhar, de bicicleta", diz Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice, uma das principais empresas de análise política do Brasil.
"Mas hoje o investidor vê o Paulo como um goleiro, que vai evitar alguns desastres maiores. E ele até já evitou recentemente, como quando convenceu o presidente que tirar o Bolsa Família do teto de gastos não era uma boa ideia. Eles (os investidores) têm medo que, com a saída do Paulo Guedes, entre alguém no ministério que não tenha esse mesmo compromisso ou a mesma proximidade com o Bolsonaro."
A Arko Advice, sediada em Brasília, elabora relatórios e mantém conversas semanais com cerca de 150 bancos e fundos estrangeiros que têm investimentos ou interesse no mercado brasileiro.
Os clientes da Arko incluem investidores estrangeiros dos mais diferentes níveis: desde fundos que entram no mercado brasileiro através de aquisição de ações de empresas nacionais na bolsa a multinacionais e outros grupos privados, que têm interesse em abrir operações e filiais no Brasil ou adquirir empresas através de fusões ou aquisições.
Segundo Aragão, para o investidor estrangeiro, a principal função do "goleiro Guedes" seria segurar o teto de gastos, contendo ímpetos que vêm de dentro do próprio governo para que se gaste mais.
Muitos entendem que o Brasil já "furou" em parte o teto, pois precisou gastar mais com auxílios emergenciais devido à pandemia — algo que muitos outros governos no mundo também tiveram de fazer, alguns em escala muito maior. No entanto, esses gastos são vistos como excepcionais e não-recorrentes.
"O maior temor dos investidores hoje, que é o que eu mais recebo de perguntas, é sobre um rompimento total do teto de gastos. Ele já foi meio rompido, está com uns furos. Mas eles têm medo agora de esse teto virar um 'rooftop' (terraço aberto) de gastos, onde não existe mais teto e se gasta à vontade."
A outra grande ameaça ao teto de gastos, segundo as consultorias, seria o agravamento da pandemia de coronavírus, já que o Brasil foi um dos países mais seriamente afetados pela covid-19.
O grupo Eurasia tem escritórios em diversas partes do mundo e envia relatórios semanais a investidores atribuindo notas de riscos associadas a cada país.
Antes da pandemia, o Brasil era classificado pela Eurasia como "positivo" — tanto na trajetória de curto prazo como na de longo prazo. Mas hoje — depois da deterioração fiscal forte que aconteceu com a pandemia — o Brasil aparece como "neutro".
"A preocupação maior no curto prazo é sobre o que vai acontecer com o Brasil se a pandemia piorar. O maior risco é que se faça uma abertura muito prematura da economia, e com isso venha uma terceira onda da pandemia e uma nova rodada de discussões em Brasília sobre como estender o auxílio emergencial", diz Christopher Garman, da Eurasia em Brasília.
Entre os possíveis riscos, que teriam repercussões negativas na economia brasileiras, estão o atraso na vacinação, a reabertura precoce da economia e o surgimento de novas variantes. Qualquer um desses fatores poderia desencadear um aumento nos números de casos, hospitalizações e mortes por covid — levando governo e Congresso a precisarem ampliar seus gastos de ajuda econômica.
Lucas Aragão, da Arko, afirma que nos últimos anos o Brasil foi um dos países que mais fizeram reformas na sua economia.
Ele cita reformas trabalhistas, fim do imposto sindical, lei das licitações, saneamento, autonomia do Banco Central, lei do gás, nova lei de governança das estatais, entre outras.
Para os investidores estrangeiros com quem ele conversa, as duas principais reformas na pauta do Congresso hoje — a trabalhista e a administrativa — são importantes para mostrar que o país segue comprometido em melhorar o ambiente de negócios no país.
Christopher Garman, da Eurasia, ressalta que as duas reformas são importantes para mostrar aos investidores que o país não perdeu seu rumo, no entanto, elas são menos urgentes do que a reforma da Previdência, aprovada no primeiro ano do governo Bolsonaro.
Aquela era uma reforma com impacto direto no gasto fiscal brasileiro e na trajetória da dívida do país.
As reformas de agora terão apenas impactos de longo prazo. A reforma administrativa, por exemplo, só afetará novas contratações feitas pela máquina pública — ela não vai mexer com salários, carreiras e benefícios de servidores atuais.
E mesmo que a reforma venha a ser aprovada neste ano, Garman acredita que ela demorará a ser implementada, pois precisa ser regulada através de outras leis complementares, que precisarão ser discutidas em minúcias no Congresso.
Tanto Aragão quanto Garman também não acreditam em uma reforma tributária ampla — mas apenas em mudanças mais pontuais e modestas, como a unificação apenas de impostos federais em um só tributo. Essa reforma também não mudaria profundamente o valor arrecadado e a situação fiscal do país — mas serviria mais para racionalizar o confuso sistema tributário do país, uma tarefa que segundo eles é praticamente um consenso nacional.
Aragão e Garman acreditam que ainda há tempo para se aprovar ambas as reformas até abril de 2022 — que seria o limite para o Congresso Nacional fazer grandes mudanças, antes de parlamentares se engajarem totalmente nas eleições.
No entanto Aragão alerta que essa aprovação não virá sem dificuldades.
"O Congresso Nacional nos últimos anos está muito mais independente e autônomo. Aquela base aliada do passado que digeria toda e qualquer política pública do governo não existe mais. Hoje é um caminho de imensa discussão", diz o analista da Arko.
Outro problema seria o tempo finito do Congresso Nacional para lidar com diferentes assuntos ao mesmo tempo ao longo de um ano. Com a agenda atualmente dominada por questões consideradas hoje mais urgentes pela população, como os efeitos da pandemia e a CPI da Covid, questões como as reformas administrativa e tributária podem acabar ficando relegadas a um segundo plano.
Além das questões econômicas existe também na cabeça do investidor internacional a preocupação com o cenário político eleitoral e o que vai acontecer com a equipe econômica depois da eleição de 2022.
Na análise que Garman passa a seus clientes, ele afirma que dificilmente um candidato de terceira via comprometido com reformas — visto por muitos investidores como ideal — tenha chances de ganhar a eleição.
A Eurasia acredita que a maior probabilidade é de uma disputa entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva.
Aragão afirma que investidores estrangeiros costumam ser menos passionais e mais pragmáticos do que os nacionais na hora de analisar os candidatos e suas propostas.
"Até o momento, o que o investidor internacional me pergunta é muito direto ao ponto. Tipo: o Lula vai concorrer mesmo? Ele tem chances? Se ele concorrer, como será a campanha? E se ele ganhar, como será o Lula que entra na Presidência? É um Lula mais centrista, como vimos no Lula 1 (primeiro mandato, entre 2002 e 2005), ou mais à esquerda?", diz ele.
"Recentemente o Lula afirmou que os Estados Unidos têm uma relação dívida/PIB de 120% e questionou por que o Brasil não poderia aumentar mais a sua dívida. O investidor nacional olha aquilo e fica apavorado enquanto o estrangeiro para e pergunta: 'ele está querendo dizer isso mesmo ou é mais bravata?'. Ele é mais sóbrio."
"Mas não vejo nenhum desespero do investidor internacional em relação ao Brasil. Se eles perceberem que as coisas não vão do jeito do que gostam, eles 'viram a mão' ou saem por um tempo e voltam depois", diz Aragão.
Virar a mão é uma referência à forma como se pode investir no mercado acionário — de "comprado" em empresas nacionais (quando ele acredita em uma alta das ações) a "vendido" (quando ele acredita que as ações cairão).
"Eles não precisam estar no Brasil, se não quiserem." (BBC Brasil, 21/5/21)
O Ibovespa fechou em leve queda a sessão desta sexta-feira (21), perdendo 0,09% aos 122.592 pontos, acompanhando mais um dia de correção nos preços do minério de ferro, movimento que pressiona as ações da Vale e das empresas siderúrgicas. O recuo no índice brasileiro foi limitado pelo salto expressivo nos papéis da BRF. A volatilidade na sessão teve ainda como pano de fundo o vencimento de opções sobre ações na B3. Na semana, o Ibovespa acumulou alta de 0,58%.
As ações da BRF entraram em leilão na tarde de hoje após avançarem mais 10% na B3, seguindo notícias de que a Marfrig está comprando ações da BRF, maior exportadora global de carne de frango. O objetivo da Marfrig com as compras, segundo fontes ouvidas pela agência Reuters, é alcançar uma participação de 20% no capital da empresa rival. As ações da BRF (BRFS3) subiram 16,28% na sessão, enquanto os papéis da Marfrig (MRFG3) registraram queda de 5,20%.
Ainda entre os destaques corporativos, a Petrobras informou na noite de ontem que uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) – determinando que o valor do ICMS a ser excluído da base de cálculo do PIS-Cofins é o destacado em nota fiscal – irá gerar um impacto positivo de R$ 4,4 bilhões no balanço do segundo trimestre da companhia.
Também hoje, o governo reduziu sua estimativa de déficit fiscal para 2021 e anunciou ter espaço para desbloquear R$ 4,8 bilhões em despesas orçamentárias. A estimativa para o déficit primário do governo central em 2021 caiu para R$ 187,7 bilhões, o mesmo que 2,2% do PIB, ante R$ 286 bilhões (3,5% do PIB) calculados anteriormente, mostrou o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do segundo bimestre.
A reestimativa foi resultado de uma melhoria da receita, “impulsionada pela retomada do crescimento”, disse o Ministério da Economia.
O dólar fechou o dia no maior patamar em mais de duas semanas, avançando 1,44% a R$ 5,3527 na venda, com investidores repercutindo a força da moeda norte-americana no exterior, mas também acompanhando movimentações políticas locais para a eleição de 2022.
No exterior, os índices terminaram o dia em campo misto. Os papéis de tecnologia foram pressionados por notícias que a China irá reprimir atividades de mineração e a negociação de bitcoins a fim de evitar riscos financeiros. Do lado altista, o mercado digeriu os dados acima das expectativas no PMI (índices de gerentes de compras) norte-americano. A leitura industrial marcou 61,5 e o de serviços ficou em 70,1. O PMI composto foi de 68,1.
Os dados reforçam a percepção de uma forte reabertura na economia norte-americana, cenário que pode impulsionar ainda mais a inflação no país e pressionar o Federal Reserve a reduzir a oferta de liquidez no mercado antes do esperado.
A crença de que o Fed poderá diminuir seu apoio à economia ganhou adeptos depois da divulgação da ata da reunião da autoridade monetária em abril. “Agora, há sinais de que o Fed se prepara para sinalizar algum ajuste em sua política monetária”, disse Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos. “Não resta dúvida de que estamos caminhando para um novo estágio do ciclo econômico, onde o crescimento ainda mostra sinais de recuperação, mas a inflação começa a amedrontar”, completou.
No fechamento, o S&P 500 teve queda de 0,08% aos 4.155 pontos, o Nasdaq recuou 0,48% aos 13.470 pontos e o Dow Jones terminou em alta de 0,36% aos 34.207 pontos (Reuters, 21/5/21)
Disparada reflete avanço das cotações de commodities, como soja e minério de ferro, e desvalorização do real ante o dólar.
Ao longo da pandemia, a inflação de matérias-primas agrícolas e industriais disparou no país. Sinal disso é o avanço do IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo), que chegou a 43,59% no acumulado de 12 meses até abril, segundo o FGV-Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
A situação preocupa especialistas, já que a sequência de aumentos sentida por empresas tende a provocar novos repasses para os consumidores finais.
Segundo o economista André Braz, do FGV Ibre, a alta observada no período é a maior desde o início do Plano Real. O IPA capta a variação de preços de mercadorias em transações interempresariais –ou seja, até a porta das fábricas, nos estágios anteriores ao consumo final de bens e serviços.
A disparada do indicador reflete uma combinação de dois fatores. O primeiro é o avanço das cotações de commodities, como soja e minério de ferro, no mercado internacional.
A isso, soma-se a desvalorização do real ante o dólar, em um contexto de juro mais baixo e incertezas sobre os rumos da economia brasileira. A moeda americana acima de R$ 5 contribuiu para que as cotações das matérias-primas fiquem ainda mais pressionadas.
“Nossa moeda se desvalorizou em um cenário de juro baixo e incertezas. Enquanto isso, houve aumentos explosivos em preços de produtos como minério de ferro e soja. O cenário impacta os preços para produtores e consumidores”, diz Braz.
Em abril, houve desaceleração do ritmo de alta do IPA, para 1,84%, após elevação de 3,56% em março. Mesmo com o avanço menor no mês passado, empresas continuam pressionadas pelo ciclo de custos em alta, o que sustenta a projeção de novos repasses para os consumidores, sinaliza o economista.
“No começo da pandemia, empresários tinham alguma margem para segurar o aumento dos preços. A questão é que não se previa um avanço tão duradouro de commodities. Para uma empresa sobreviver, não tem como praticar preços muito baixos. Então, ou repassa os aumentos de custos ou sai do negócio”, observa.
“É certo que teremos alta na inflação mais longa do que muitos imaginavam no início da pandemia. Há uma grande pressão de commodities. Os repasses ao consumidor devem ocorrer com o aumento na demanda e o estresse no caixa das empresas”, observa o economista Fábio Astrauskas, presidente da consultoria Siegen e professor do Insper.
Indicador oficial de inflação do país, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulou alta de 6,76% em 12 meses até abril, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Embora esteja em nível inferior ao avanço de preços de matérias-primas usadas por produtores, o indicador está acima da meta perseguida pelo Banco Central em 2021.
O centro da meta para a inflação deste ano é de 3,75%, com limite de 5,25%. A marca de 6,76% é a maior desde novembro de 2016.
Em uma tentativa de frear os preços, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central voltou a subir a taxa básica de juro no início do mês em 0,75 ponto percentual, o que levou a Selic para 3,50% ao ano. Após a reunião, o Copom indicou nova alta na mesma magnitude em junho, para 4,25%.
Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) relata que “o aumento nos preços de commodities agrícolas e insumos, a variação cambial e o impacto da pandemia têm influenciado os custos de toda a cadeia produtiva da indústria alimentícia”.
“A indústria não tem capacidade de absorver 100% dos custos, que acabam se desdobrando no preço final dos alimentos”, declara o presidente da Abia, João Dornellas.
Na visão do dirigente, o governo federal poderia reduzir impostos de importação, na tentativa de diminuir os gastos na produção e, consequentemente, o impacto nos preços finais.
O IPA responde por 60% da composição do IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado), também calculado pelo FGV Ibre. O IGP-M, por sua vez, é frequentemente usado no reajuste de contratos de aluguel no país. Ou seja, o aumento de commodities pode gerar reflexo na locação de imóveis comerciais e residenciais.
No acumulado de 12 meses até abril, o IGP-M registrou alta de 32,02%. Em meio ao avanço, um projeto na Câmara dos Deputados busca fixar o IPCA como teto para correção de contratos de aluguel.
Além do IPA, o IGP-M é composto por outros dois indicadores: o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) e o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção). O IPC tem peso de 30%, enquanto o INCC responde por fatia de 10% (Folha de S.Paulo, 22/5/21)