Em reunião do comitê também foi apresentada proposta de incentivo à redução do consumo por consumidores regulados
SUELI MONTENEGRO, DA AGÊNCIA CANALENERGIA, DE BRASÍLIA
O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico autorizou o aumento do despacho de usinas hidrelétricas para garantir o abastecimento de energia ao Sistema Interligado. Em nota, afirmou que há uma piora relevante da situação hídrica no país. Em reunião extraordinária na última terça-feira, 24 de agosto, o CMSE aprovou flexibilizações temporárias da regra de operação do rio São Francisco para garantir mais geração e reduzir a degradação do armazenamento dos reservatórios das usinas do Sudeste e Sul do país.
Durante a reunião também foi feita uma apresentação de proposta de lançamento de um Programa de Incentivo à Redução Voluntária do consumo de energia elétrica para consumidores regulados. A proposta é que seja dado um incentivo econômico a esses consumidores, por meio de um bônus pela economia de energia.
A medida é semelhante à adotada no racionamento de 2001, quando foi estabelecida uma meta de economia de 20% e os consumidores recebiam descontos na conta de luz. Ela representa um passo além do que já foi dado até agora no gerenciamento da crise e complementa o programa de redução voluntária voltado para grandes consumidores de energia, cujas diretrizes foram publicadas pelo governo no início da semana.
Em nota sobre a reunião de ontem, o Ministério de Minas e Energia informou que foram discutidos aspectos das flexibilizações operativas já implantadas relacionados a níveis mínimos de armazenamento das UHEs, com a indicação pelo CMSE da necessidade de uso dos estoques hídricos armazenados.
O colegiado reconheceu que “predomina a degradação dos cenários observados e prospecções futuras, com relevante piora, fazendo-se imprescindível a adoção de todas as medidas em andamento e propostas, destacadamente a alocação dos recursos energéticos adicionais e flexibilizações de restrições hidráulicas.”
O uso do estoque hídrico armazenado será avaliado pela Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética, que vai se reunir hoje, a partir das 14h. A Creg também vai analisar a proposta de redução do consumo para consumidores das distribuidoras.
Por Mariana Ribeiro e Marcelo Ribeiro, Valor — Brasília
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que nunca os “fundamentos fiscais estiveram tão tranquilos” e que “quem está dizendo que o Brasil vai parar de crescer no ano que vem não entendeu nada”. Para Guedes, o país vai crescer e enfrentará o problema do choque hídrico. “Isso vai causar perturbação, empurra a inflação um pouco para cima, BC tem que correr um pouco mais atrás da inflação”, afirmou.
O ministro disse ainda que se no ano passado, em meio à pandemia, o país se organizou e atravessou a crise, não há motivo para ter medo agora. “Qual o problema agora que a energia vai ficar um pouco mais cara porque choveu menos?”, questionou.
Para Guedes, o país vai continuar crescendo justamente porque o “Congresso está operante”. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), acrescentou, é uma “liderança imprescindível”. O ministro voltou a dizer que a vacinação está avançando e que “já já” o Brasil vai passar os Estados Unidos em percentuais de imunização.
Em relação à frente parlamentar, disse que é uma “peça decisiva que estava faltando na engrenagem política”. “Estamos formalizando um eixo de ação política que nos garanta apoio nas horas decisivas.”
Determinação está em decreto publicado em edição extra do Diário oficial e vale de setembro de 2021 a abril de 2022
SUELI MONTENEGRO, DA AGÊNCIA CANALENERGIA, DE BRASÍLIA
O governo publicou decreto em edição extra do Diário Oficial da União estabelecendo medidas para a redução do consumo de energia elétrica pela administração pública federal direta, autarquias e fundações. A meta é diminuir o gasto de eletricidade entre 10% e 20% de setembro de 2021 a abril de 2022, em relação à média do consumo do mesmo mês nos anos de 2018 e 2019.
A determinação se aplica às mais de 22 mil edificações próprias e a cerca de 1.400 imóveis alugados por órgãos da administração direta e indireta, como escritórios, escolas, hospitais e universidades. O decreto editado nesta quarta-feira, 25 de agosto, entra em vigor a partir de 1º de setembro.
O Ministério de Minas e Energia informou em nota que as medidas de economia de energia são fruto de discussões da Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética, e vêm como parte do esforço da sociedade para enfrentamento da crise hídrica no país. O ato determina que os órgãos e entidades devem buscar em caráter permanente a adoção de uma série de recomendações para a redução do consumo.
Órgãos e entidades federais devem constituir comissões internas de conservação de energia (Cice), no âmbito dos comitês internos de governança, para assessorar os dirigentes na adoção das ações recomendadas. A determinação inclui Presidência e Vice-Presidência da República, que terão um Cice. A manutenção dessas comissões será obrigatória até 30 de abril de 2022.
Cada entidade da administração terá de divulgar na internet o comparativo de consumo de energia elétrica entre os meses dos períodos em que forem aplicadas as medidas. Caso o órgão não consiga reduzir o consumo nos percentuais definidos, ele terá de apresentar uma justificativa para não ter alcançado a meta. A ações necessárias para a economia de energia deverão respeitar a disponibilidade orçamentária e financeira de cada instituição.
Recomendações
O decreto traz um anexo com recomendações para o uso eficiente da energia elétrica. Elas vão desde a utilização de aparelhos de ar condicionado à iluminação dos locais e ao uso de computadores, geladeiras, congeladores, aquecedores elétricos de água, elevadores e equipamentos de refrigeração e de água potável.
As orientações dizem respeito a utilização de aparelhos e da iluminação ambiente da forma mais eficiente possível, privilegiando a luz natural e com o desligamento de equipamentos em ambientes desocupados, uso da ventilação natural em dias de temperaturas amenas e manutenção de portas e janelas fechadas quando a refrigeração do ar estiver ligada, entre outras ações. Veja o Decreto 10.779
Edital de venda da Sulgás é publicado
A Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul (Sulgás) teve seu edital de privatização divulgado no Diário Oficial do Estado ontem. As propostas, com valor mínimo de R$ 927,8 milhões, devem ser entregues até o dia 18 de outubro de 2021, na B3, a bolsa de valores do Brasil, em São Paulo. O leilão está previsto para o dia 22 de outubro de 2021.
"Com a privatização da Sulgás, projetamos melhores condições para a companhia expandir a malha de distribuição e prover o acesso ao gás natural aos consumidores, sobretudo em termos de ganhos de eficiência e de capacidade de investimento", destacou o secretário do Meio Ambiente e Infraestrutura, Luiz Henrique Viana.
A avaliação dos valores foi realizada por duas empresas contratadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a EY (Emst & Young) e o consórcio Pampagás, formado por BR Partnes, Le fosse Advogados, LM DM Consultoria e Vemalha, Guimarães & Pereira Advogados. Depoisda privatização da CEEE Distribuição e da CEEE Transmissão, este será o terceiro leilão de privatização a ser realizado neste ano pelo governo do Estado.
As desestatizações fazem parte da agenda de desenvolvimento para o Rio Grande do Sul e são vistas não apenas como uma oportunidade de receita para o enfrentamento da crise financeira, mas como um caminho para gerar investimentos privados e melhoria dos serviços públicos prestados à população.
Em 2 de julho de 2019, a Assembleia Legislativa aprovou o Projeto de Lei 265/2019, que autorizou o Poder Executivo do Estado do Rio Grande do Sul a promover medidas de desestatização da Sulgás.
A Lei 15.299 foi sancionada e promulgada dois dias depois. A partir da autorização legislativa, o BNDES foi contratado pelo governo do Estado, em 24 de setembro de 2019, para conduzir o processo de privatização da Sulgás.
Cerimônia em Brasília formaliza transferência da CEEE-D para o Grupo Equatorial
Assinatura do termo, com a presença do governador Eduardo Leite, ocorreu na sede da Aneel
A formalização da transferência da Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica (CEEE-D) para o Grupo Equatorial Energia ocorreu, nesta quarta-feira, em cerimônia em Brasília. A assinatura do termo, com a presença do governador Eduardo Leite, ocorreu na sede da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O ato teve transmissão pelo Youtube.
Simbólica, a cerimônia marca a assinatura do quinto termo aditivo ao contrato de concessão nº 81/99, que formaliza a transferência de controle societário da CEEE-D para a Equatorial.
"Estamos muito satisfeitos com a condução do processo, e agradecemos muito o apoio e a colaboração da Aneel, e também ao Grupo Equatorial, que decidiu apostar no crescimento do nosso Estado", disse Leite. Durante a fala em participação presencial, o goverandor ainda destacou: "Apostamos nisso: na regulação bem feita, em agências fortes, em um governo que estabelece as regras e fiscaliza, mas que deixa a operação nas mãos da iniciativa privada, mais eficiente e mais ágil nas transformações tecnológicas."
O presidente da Equatorial, Augusto Miranda, destacou que a empresa teve tempo, antes de assumir a transferência, para entender os problemas e os desafios que enfrentariam. "Estamos trabalhando para colocar todos os valores e parâmetros estabelecidos dentro do órgão regulador, e estamos capitalizando a empresa para suportar um volume maior de investimentos. Estamos comprometidos em levar energia de qualidade para suportar o crescimento do Estado", disse Miranda.
A CEEE-D atende 1,6 milhão de clientes em 72 municípios da Grande Porto Alegre e das regiões Sul, Campanha e Litoral. No Brasil, o Grupo Equatorial, considerando as novas concessionárias adquiridas em 2021 no Rio Grande do Sul e no Amapá, passa a atender 13% do total de consumidores brasileiros e responde por 7% do mercado de distribuição do país.
"O capital privado é imprescindível para o desenvolvimento de nossa infraestrutura. O Brasil precisa de investimentos, e isso naturalmente inclui o Rio Grande do Sul. Não somente para democratizar ainda mais o acesso à energia elétrica e melhorar a prestação desse serviço, mas para gerar empregos, renda e desenvolvimento aos brasileiros", ressaltou André Pepitone, diretor-geral da Aneel.
Também estiveram presentes na cerimônia o presidente da CEEE, Marco Soligo, o secretário da Fazenda, Marco Aurelio Cardoso, e o procurador-geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa. Antes do ato, o governador se reuniu brevemente com o diretor-geral Pepitone.
O controle acionário da CEEE-D, de titularidade da Companhia Estadual de Energia Elétrica Participações (CEEE-Par), foi leiloado em lote único pelo lance de R$ 100 mil, e o grupo assumiu o passivo da companhia - pelo menos R$ 4,4 bilhões acumulados somente em ICMS.
Parte desse valor, inclusive, já foi repassada aos municípios - no começo de julho, o Tesouro do Estado transferiu às 497 prefeituras gaúchas R$ 515 milhões referentes à parte desse passivo tributário.
Além da retomada do recebimento do ICMS pelo Estado - cerca de R$ R$ 1,3 bilhão por ano -, os benefícios da venda da empresa abrangem maiores investimentos na área de distribuição de energia elétrica, o que acarretará em melhorias na prestação de serviço à população.
Em julho deste ano, a CPFL Energia venceu o leilão de privatização do controle da Companhia Estadual Transmissão de Energia Elétrica (CEEE-T). A CPFL Energia apresentou proposta de R$ 2,67 bilhões, com ágio de 57,13%. O valor inicial estabelecido era de R$ 1,7 bilhão. Resta, agora, apenas a privatização da Geradora, a CEEE-G.
Processo de desestatização
A desestatização da companhia foi iniciada em janeiro de 2019, com a elaboração das propostas legislativas. Em maio do mesmo ano, a Assembleia Legislativa aprovou a retirada da obrigatoriedade de plebiscito para a venda da empresa e, em julho, autorizou a privatização das empresas do Grupo CEEE.
Para a elaboração dos estudos e da modelagem do projeto de privatização, o governo do Estado firmou contrato com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A execução dos serviços, por sua vez, foi feita pela empresa Ernst & Young Global e pelo consórcio Minuano Energia, composto pelas empresas Machado Meyer, Thymos Energia e Banco Genial.
O leilão da CEEE-D ocorreu em março de 2021, e o grupo assumiu a gestão da empresa em 14 de julho. O leilão da CEEE-T ocorreu em 16 de julho, e foi vencido pela CPFL Energia.
Fenômeno da falta de trabalhadores nos EUA dá sinais no Brasil
Relatos de dificuldade para contratar podem ser explicados por descasamento no mercado de trabalho
O fenômeno da escassez de mão de obra que atingiu os EUA na pandemia preocupa setores empresariais brasileiros, que receiam estar diante de um cenário com alguma semelhança.
A despeito do desemprego elevado, negócios nas indústrias de calçados, confecções, náutica, farmacêutica e até restaurantes relatam diferentes níveis de dificuldade para preencher vagas novas ou reabertas. A avaliação é que os trabalhadores podem ter migrado para outras cidades ou atividades no último ano.
Afetados pela redução nas vendas de calçados por causa da quarentena, os pólos calçadistas de Franca e Jaú, em São Paulo, agora vislumbram a retomada, mas enfrentam dificuldade para readmitir os trabalhadores dispensados na crise, segundo Haroldo Ferreira, presidente da Abicalçados (associação do setor).
Pelas previsões de Ferreira, a situação deve se normalizar nos próximos quatro meses, que é o tempo de formação de novos profissionais no ramo.
Para Rafael de Souza, sócio da rede de sapatos masculinos Fascar, outros mercados como o telemarketing podem ter atraído os trabalhadores mais jovens em Franca. Marcel Savelli, diretor da fabricante de calçados Savelli, vê as empresas de aplicativo como fortes competidoras pela mão de obra.
"Está bem complicado. Estamos com dificuldade de encontrar mão de obra tanto já qualificada e quanto sem qualificação. A pandemia acentuou, mas já vínhamos sentindo isso antes. A indústria foi sucateada e deixou de ser atrativa para o jovem", diz Savelli.
O boom registrado pelos fabricantes de barcos de luxo, que tiveram fila de espera de compradores, enfrentou gargalo na contratação de mão de obra qualificada. A suspensão dos cursos presenciais agravou a situação, segundo Airton Said, diretor da Acatmar, associação que reúne estaleiros e marinas.
“A nossa mão de obra ainda é artesanal e precisa ser qualificada. Neste momento, temos alta de 30% na demanda de construção de barcos em comparação com anos anteriores, sem pandemia”, afirma Said. Ele diz ter visto parte dos funcionários jovens migrando para a área de tecnologia e profissionais mais experientes começando a empreender.
No segmento de confecções, também há relatos de dificuldade na contratação, casos de absenteísmo e afastamento de gestantes, mesmo que vacinadas contra a Covid, segundo Fernando Pimentel, presidente da Abit (associação do setor têxtil).
Na indústria farmacêutica, os relatos de escassez de mão de obra qualificada aparecem nas áreas de compliance e tecnologia da informação, afirma Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma.
Até no setor de restaurantes, tido como importante porta de entrada de jovem no mercado de trabalho, os demitidos migraram para aplicativos, construção civil ou foram empreender com a venda marmita feita em casa, segundo Paulo Solmucci, presidente da Abrasel (associação dos bares e restaurantes). Ele diz que também houve um fluxo para cidades do interior.
O outro efeito colateral da crise neste mercado foi o ganho de produtividade, segundo Solmucci. "Onde trabalhavam 10, hoje trabalham 8. Não voltaremos ao mesmo número de empregos, mesmo que o setor retome o faturamento de 2019 neste semestre", afirma.
A economista Cecilia Machado, colunista da Folha, afirma que a situação é mais nítida nos EUA, mas aqui deve acontecer também em algum grau. Existe uma percepção de que pode ter ocorrido um descasamento na pandemia provocado pelo deslocamento geográfico ou de atividade.
"O setor de serviços mudou com a tecnologia. Talvez um restaurante não precise mais de tanta gente servindo, porque as pessoas pedem mais em casa. Aí precisa ter uma mão de obra um pouco diferente, que tem de entender também do pedido do iFood, de olhar um sistema. Não é exatamente a mesma coisa. Pode ter esse descasamento", afirma.
Machado afirma que a mão de obra leva um tempo para se realocar, ou seja, o trabalhador de uma atividade específica não entra instantaneamente em outra. E, neste momento, há setores diferentes demandando em quantidades também distintas. Algumas profissões são mais substituíveis do que outras.
"Está muito claro nos EUA que as pessoas saíram das grandes cidades porque o trabalho poderia ser feito remoto. Aqui não é tão claro que isso aconteceu porque nem todo trabalho pode ser feito de forma remota. O presencial vai voltar muito mais fortemente aqui", afirma a economista.
Uma outra explicação pode estar no medo do contágio. Enquanto houver pessoas com receio da pandemia, elas se sentirão inseguras para o trabalho, segundo a economista. Machado ressalva que o sentimento de insegurança capaz de levar o trabalhar a rejeitar uma vaga depende do nível de conforto de renda.
"Nos EUA, as pessoas colocam esse argumento por causa do plano Biden. Aqui isso não está acontecendo, a gente não tem mais aquele auxílio emergencial. É muito improvável essa explicação aqui. Acho que é possível o medo da variante. Mas ele encontra um limite no quanto as pessoas conseguem se sustentar sem trabalhar", diz (Folha de S.Paulo, 26/8/21)
Reajuste considera inflação de 6,2% no ano; valor tende a ser revisado para cima, pois já está defasado.
O governo deve estimar que o salário mínimo subirá para aproximadamente R$ 1.170 no próximo ano. O valor, porém, tende a ser revisado para cima até o fim do ano, pois a equipe econômica usou parâmetros de inflação defasados para prever a correção do piso salarial, que hoje é de R$ 1.100 por mês.
O cálculo do reajuste considera que a inflação (medida pelo INPC) será de 6,2% neste ano. No entanto, as projeções do mercado já apontam para uma inflação acima de 7%.
A nova estimativa para o salário mínimo deve estar na proposta de Orçamento de 2022, a ser enviada ao Congresso até o dia 31 de agosto.
O projeto orçamentário, portanto, estará distante de um cenário realista. O texto trará parâmetros macroeconômicos defasados e não incluirá medidas tratadas como prioritárias pelo governo, mas que ainda estão em negociação, como a ampliação do Bolsa Família.
O governo enviará a proposta ao Legislativo para respeitar o prazo previsto em lei, mas já conta que mudanças terão que ser feitas no texto durante a tramitação, até o fim do ano.
Para a elaboração das contas de 2022, a equipe econômica optou por manter a grade de parâmetros econômicos divulgada em julho. No entanto, diante das oscilações do mercado nas últimas semanas, as previsões para os indicadores tiveram mudanças significativas.
No caso do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que baliza o reajuste do salário mínimo –também é usado em acordos e negociações coletivas de trabalho–, a previsão do Ministério da Economia apresentada em julho considera uma alta de 6,2% no ano, enquanto o mercado e também integrantes do governo esperam um crescimento mais forte.
Há duas semanas, o secretário do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, apresentou um cenário de inflação mais forte e disse que as estimativas do mercado já apontam para um patamar de 7,2% para o INPC no ano.
O Ibre FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas) estima que o índice encerrará o ano em 8%.
"O governo vai enviar uma peça [orçamentária] que não tem credibilidade", disse Juliana Damasceno, economista e pesquisadora de finanças públicas do Instituto.
Apesar do aperto no Orçamento, ela defende a regra que impõe a correção do salário mínimo (e das despesas relacionadas ao piso salarial) pelo INPC. "Está havendo uma corrosão do poder de compra das pessoas, dificuldades no setor informal. Então, faz todo sentido a indexação [desses gastos] e que o governo reveja outros tipos de despesas".
A Constituição determina que o salário mínimo deve garantir a manutenção do poder de compra do trabalhador. Por isso, o valor tem que ser corrigido pela inflação.
Para 2021, o governo anunciou o aumento para R$ 1.100, considerando uma projeção do comportamento dos preços no fim do ano passado. Só que a inflação, medida pelo INPC (e divulgado pelo IBGE), foi mais acelerada.
Por isso, para o próximo ano, o governo deveria conceder um aumento adicional de aproximadamente R$ 2 no piso salarial. Portanto, o reajuste de 2022 parte de um salário mínimo de cerca de R$ 1.102 por mês.
Com o aperto para elaborar um projeto de Orçamento de 2022 dentro das leis fiscais, a equipe econômica ainda avalia se, na proposta a ser encaminhada na próxima semana, já irá ou não contabilizar esse reajuste retroativo de R$ 2.
O martelo já foi batido em relação ao aumento de 6,2% —da projeção de inflação divulgada em julho.
Por causa desses pontos ainda em discussão, a estimativa do salário mínimo deverá ser alterada até o fim do ano.
Por enquanto, na proposta de Orçamento, o valor deve variar entre R$ 1.169 e R$ 1.171 por mês. Essa margem é justamente os R$ 2 de aumento retroativo do ano passado.
Contudo, técnicos do governo dizem que o cenário mais provável é que a projeção para o piso nacional seja de R$ 1.169, deixando o aumento retroativo para ser acertado no fim do ano.
Isso deve causar uma pressão ainda maior no Orçamento de 2022. Em abril, quando o governo apresentou da LDO (lei que dá as bases para que o Orçamento seja elaborado), a projeção era que o salário mínimo iria para R$ 1.147, mas o valor precisará ser corrigido por causa da aceleração da inflação.
Segundo dados do governo, a cada aumento de 0,1 ponto percentual no INPC, há uma expansão de R$ 771,9 milhões nas despesas públicas. O salário mínimo também é o piso pago em benefícios previdenciários, como aposentadorias e pensões.
A proposta orçamentária para 2022 deve ser enviada ao Congresso com previsão de R$ 89 bilhões para o pagamento de precatórios —dívidas do governo reconhecidas pela Justiça e sem chance de recurso.
Esse gasto, que cresceu fortemente e é tratado pelo ministro Paulo Guedes (Economia) como um meteoro, vai consumir todo o espaço no Orçamento que o governo esperava ter para implementar medidas positivas para o ano eleitoral.
As contas para 2022 não incluirão, por exemplo, uma versão turbinada do Bolsa Família. A falta de recursos também deve limitar as verbas para investimentos.
O plano do governo é aprovar a PEC (proposta de emenda à Constituição) que parcela precatórios e a reforma do IR (imposto de renda) e conseguir espaço no Orçamento para implementar esses programas em 2022.
As duas propostas, no entanto, sofrem com forte resistência de agentes do mercado e de parcela do Congresso. Sem a aprovação, técnicos do governo afirmam que não será possível reforçar programas sociais no ano que vem (Folha de S.Paulo, 26/8/21)
O Ibovespa fechou hoje (25) em alta de 0,50%, a 120.817 pontos, impulsionado pelo bom humor em Wall Street e pelos números positivos sobre as contas públicas do país. A arrecadação da Receita Federal cresceu 35,47% em julho em termos reais, somando R$ 171,27 bilhões, valor recorde para o mês, informou hoje a Receita Federal. No acumulado do ano, a arrecadação teve alta real de 26,11%, a R$ 1,053 trilhão, também o maior valor para o período da série do Fisco.
Durante a sessão, o mercado reagiu negativamente à prévia da inflação de agosto, medida pelo IPCA-15, que chegou ao nível mais alto para o período desde 2002. O indicador avançou 0,89% neste mês, ante 0,72% de julho. No acumulado dos últimos 12 meses, a alta é de 9,30%, acima das expectativas do mercado. A energia elétrica foi a principal responsável pelo avanço inflacionário, com alta de 5,0% em meio à crise hídrica.
O índice brasileiro encontra fôlego para se recuperar após quedas profundas na última semana, amparado pelo arrefecimento da crise política em Brasília. As declarações realizadas ontem (24) pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, afastando a possibilidade da Casa aprovar medidas que furem o teto dos gastos foram bem recebidas pelos investidores.
Na visão do diretor da plataforma de análises Ohmresearch, Roberto Attuch, essas sinalizações ajudam a estabilizar a bolsa, embora o país passe por um momento difícil. O estresse político, as discussões sobre o aumento do Bolsa Família e a questão do pagamento dos precatórios, segundo ele, combinados com a aproximação da eleição presidencial em 2022, têm minado as perspectivas fiscais e prejudicado o mercado doméstico. “A bolsa brasileira está sofrendo em função de fatores domésticos, basicamente o político contaminando a questão fiscal”, afirma.
Nos EUA, o S&P 500 e o Nasdaq renovaram máximas históricas em meio ao otimismo dos investidores com a aprovação total pela agência sanitária do país da vacina da Pfizer/BioNTech, alimentando a expectativa de que mais norte-americanos se imunizem contra a Covid-19 e de que novas medidas restritivas sejam evitadas. Setores que tendem a se beneficiar da retomada econômica, como empresas smallcaps, chips e transportes, tiveram desempenho superior ao do mercado em geral. Além disso, o aumento dos rendimentos dos Treasuries deu impulso aos papéis do setor financeiro, sensíveis à taxa de juros.
A aprovação pelo Congresso do orçamento de US$ 3,5 trilhões para expandir programas sociais da gestão Joe Biden também animou o mercado. O S&P 500 avançou 0,22%, a 4.496 pontos. O Nasdaq subiu 0,15%, a 15.041; e o Dow Jones encerrou o dia com alta de 0,11%, a 35.405 pontos.
A atenção no exterior está voltada ao simpósio do Federal Reserve, em Jackson Hole, principalmente a fala do chair do Fed, Jerome Powell, na sexta-feira, que pode trazer sinais sobre os próximos passos da política monetária norte-americana.
O dólar manteve o movimento de correção visto no pregão de ontem (24), fechando em baixa de 0,96%, a R$ 5,2113 na venda. O real mais uma vez liderou os ganhos entre as principais divisas globais, se beneficiando do bom humor externo e registrando novos ajustes após a forte pressão recente no mercado de câmbio (Reuters, 25/8/21)