A economia enfraquecida e a crise política continuam a derrubar a intenção de investimento da indústria de transformação. Sondagem trimestral da FGV sobre o tema mostrou que o setor vê grande ociosidade até pelo menos o fim do ano, o que não incentiva novos aportes nas fábricas. O Indicador de Intenção de Investimentos, síntese da sondagem, caiu 12,3 pontos no primeiro trimestre deste ano, ante o quarto trimestre de 2015, para 72,6 pontos, menor patamar da série iniciada no terceiro trimestre de 2012. Na comparação com igual período de 2015, o recuo é de 28,2 pontos. No quarto trimestre de 2015, o índice havia caído sete pontos. Para o superintendente -adjunto para ciclos econômicos da FGV, Aloísio Campelo, o agravamento da crise política pode levar o indicador a novos recordes negativos. O indicador fica abaixo de cem pontos quando a proporção de empresas que prevê reduzir os investimentos nos 12 meses seguintes é maior que o conjunto daquelas que pretendem investir mais. O índice está abaixo de 100 desde o segundo trimestre de 2015. No primeiro trimestre, 44,2% das empresas preveem investirem menos nos próximos 12 meses. É o maior percentual desde o início da pesquisa. Na outra ponta, 16,8% preveem investir mais. Outros 39% não vão aumentar nem reduzir investimentos. No quarto trimestre, 30,8% pretendiam reduzir os investimentos, 15,7% iam aumentar e 53,5% mantê--los estáveis. O indicador é calculado com perguntas sobre os fatores que influenciaram a intenção de investimento nos próximos 12 meses. Este ano, a FGV adicionou o ambiente político aos cinco tópicos já existentes: demanda interna, demanda externa, ambiente macroeconômico, condições de crédito e situação externa. Entre os entrevistados, 80,3% classificaram o atual ambiente político como fator negativo para decisão de investimento; 3,9% como positivo. Os demais consideraram o ambiente neutro. A pesquisa foi feita entre 4 de janeiro e 29 de fevereiro, com 670 empresas. "Se observarmos ao longo de 2015, podemos ver que as empresas estavam limitando investimentos para manter ritmo de produção e esperando que a situação melhorasse", disse Campelo. Para ele, se há sinais que o pior da recessão vai passar, os empresários começam a pensar em investir futuramente. "Não é isso que está ocorrendo, no começo do ano. Ao longo de 2016, pode ser que as empresas se tornem menos pessimistas. Mas o fator político é crucial porque joga para frente incertezas", afirma o economista da FGV. "O empresário não tem como prever o que vai acontecer na economia agora.” (Valor Econômico - 11.03.2016)