16/03/2016
Cerca de 60% do equipamento de fraturamento hidráulico dos EUA tem permanecido ocioso durante o período de queda do preço do petróleo, segundo a IHS Energy.
Os Estados Unidos deveriam ser o novo produtor mundial, com capacidade para reequilibrar o volume de petróleo disponível no planeta, abrindo e fechando rapidamente suas torneiras em resposta às forças do mercado graças aos seus inúmeros campos de exploração de xisto.
Mas com os preços do petróleo mostrando alguns sinais de estabilidade, os produtores americanos e as empresas que prestam serviços ao setor alertam que elas talvez não sejam capazes de retomar as perfurações imediatamente.
O motivo: várias petrolíferas independentes estão lidando com uma escassez de recursos, tiveram de demitir inúmeros funcionários ou desativaram muitos equipamentos, o que as impede de elevar a produção de uma hora para outra.
“O balanço financeiro desses produtores especializados em xisto tem que se restabelecer para que consigam voltar a perfurar”, diz John Hess, diretor-presidente da petrolífera Hess Corp. “Isso vai frear qualquer recuperação.”
Justo quando a produção americana cai mais lentamente que o esperado — mesmo com os preços do barril do petróleo recuando de cerca de US$ 100 em 2014 para em torno de US$ 30 hoje — é provável que a recuperação seja mais devagar, mesmo se os preços subirem para US$ 50 por barril ou mais, dizem executivos e analistas do setor.
Mais de 35 produtores de petróleo e gás dos EUA planejam cortar seus gastos de capital este ano em uma média em torno de 50%, segundo análise feita pelo The Wall Street Journal de documentos financeiros das companhias.
Algumas das maiores empresas de serviços de campos de petróleo dos EUA demitiram um total de 110 mil funcionários no ano passado, estima a Evercore ISI, e muitos desses trabalhadores não desejam retornar à indústria.
Cerca de 60% do equipamento de fraturamento hidráulico dos EUA tem permanecido ocioso durante o período de queda do preço do petróleo, segundo a IHS Energy, que estima que levaria dois meses para que parte desse equipamento volte a operar.
Mas mesmo que os preços voltem para níveis que permitam que os exploradores de petróleo e gás de xisto consigam lucrar novamente, muitos prometem cautela. Isso porque, no ano passado, os produtores retomaram a perfuração de novos poços depois de os preços do barril terem voltado brevemente para o patamar de US$ 60, o que acabou agravando o excesso de oferta e pressionando ainda mais os preços.
“A US$ 40, duvido que veremos muita aceleração” na produção, disse Taylor Reid, diretor operacional da Oasis Petroleum Inc., em uma conferência do setor na semana passada, em Denver, no Colorado.
Um dos motivos que fizeram com que a produção continuasse forte no ano passado é que os custos para a exploração de xisto diminuíram. Os produtores se apoiaram nos cortes de custos das empresas prestadoras de serviço, mas agora essas companhias afirmam que não têm mais como reduzir as despesas.
A Agência de Informação sobre Energia dos EUA estima que a produção de petróleo do país caiu em 600 mil barris por dia em fevereiro em relação ao pico do ano passado, de cerca de 9,7 milhões de barris diários — o que representa uma queda de 6%. Alguns dos maiores produtores de xisto dos EUA têm afirmado que planejam reduzir a produção este ano em outros 10%.
Especialistas como Daniel Yergin, da firma de pesquisa IHS Energy, haviam previsto que os exploradores de xisto dos EUA surgiriam como os novos produtores capazes de balancear a produção mundial, assumindo o papel tradicionalmente ocupado pela Arábia Saudita e outros membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo. A IHS informou que ainda espera que os EUA desempenhem esse papel nos mercados globais, graças ao xisto, mas afirma que as atuais turbulências podem adiar a reação a um aumento de preços.
Os produtores americanos de petróleo construíram um bom estoque de poços perfurados que ainda não foram explorados, uma fonte latente da commodity que pode gerar uma explosão rápida de nova oferta — até 620 mil barris diários por seis meses, caso sejam ativados simultaneamente, de acordo com uma nota escrita na semana passada por analistas do banco Goldman Sachs.
Mas as empresas que querem colocar as sondas de volta em operação imediatamente poderão se ver diante de uma limitação da força de trabalho e equipamentos exauridos, o que deve dificultar a coordenação de uma retomada.
Uma recente pesquisa da firma britânica de recrutamento Hays PLC verificou que 72% dos trabalhadores do setor de petróleo e gás demitidos em todo o mundo estão procurando emprego em outros setores.
A Basic Energy Services Inc., empresa de fraturamento hidráulico que reduziu sua força de trabalho em mais de 40% desde o início da crise, estima que apenas um em cada cinco demitidos voltará para a companhia. Os demais levarão com eles o conhecimento acumulado ao longo dos anos durante os quais as empresas se especializaram em técnicas como a perfuração e o fraturamento de poços xisto no subsolo que se estendem por quilômetros horizontalmente.
Algumas empresas — inclusive a Schlumberger Ltd., a maior prestadora de serviços de petróleo do mundo — estão tentando administrar suas demissões para evitar o que alguns consideram uma iminente fuga de talentos.
A Schlumberger informou que 1.700 de seus jovens engenheiros com dois ou três anos de experiência estão em licença — recebendo parte dos salários e benefícios, o que permite que eles não representem um grande custo à empresa até que sejam necessários novamente.
“Muitos desses jovens não têm problema em tirar um ano de folga, viajar pelo mundo”, disse Patrick Schorn, diretor de operações da Schlumberger, na Conferência Anual de Petróleo do Credit Suisse no mês passado. “Quando houver uma recuperação, eles serão os primeiros a serem chamados.”
Ainda assim, muitos novos trabalhadores terão que ser contratados e treinados — processo que pode levar meses, de acordo com analistas. E eles estarão trabalhando com sondas, bombas e equipamentos que se deterioraram.
“A retomada dessa vez será dura, não há dúvidas”, diz Tom Petrie, presidente do conselho da Petrie Partners, um banco de investimentos do Colorado. “Esses cortes foram dolorosos” (The Wall Street Journal, 16/3/16)