CEO global da empresa aponta que concessionárias com sinergias devem ser mais atraentes para a companhia que vê a integração de distribuidora paulista mais rápida do que previsto originalmente
MAURÍCIO GODOI, DA AGÊNCIA CANALENERGIA, DE SÃO PAULO (SP
A Enel poderá voltar ao mercado de aquisições em distribuição a partir de 2020. O processo de integração da antiga AES Eletropaulo pela companhia italiana apresentou um processo mais rápido do que o esperado e poderá antecipar sua retomada no mercado nacional. No radar da empresa estão concessionárias como a CEB do Distrito Federal e até mesmo a Light, no Rio de Janeiro, que podem trazer sinergias operacionais com as atuais concessões da italiana no país.
Atualmente, além de 24 municípios em São Paulo, a Enel atua em distribuição no interior do estado do Rio de Janeiro (na área da antiga Ampla), no Ceará e em Goiás. Atende a cerca de 17 milhões de consumidores em todo o país. E desde o ano passado esteve concentrada no processo de integrar a concessionária adquirida em junho de 2018 do grupo norte americano AES depois de um verdadeirorally protagonizado com a concorrente Iberdrola na B3 pelo controle da distribuidora paulistana.
“Esse é o tipo de negócio que temos que esperar ser colocado à venda e resultar em alguma combinação. Não sabemos o que virá de oportunidades no mercado brasileiro em 2020, mas continuaremos a olhar as opções potenciais que se mostrarem”, afirmou Francesco Starace, CEO Global da Enel.
Starace está no país esta semana para uma série de eventos. O executivo disse a jornalistas que o país continua a ter uma participação importante para a empresa em termos globais. No ano passado durante o evento Capital Market Day, promovido pela Enel, foi dedicado ao país um capítulo especial na apresentação dos executivos.
Na oportunidade, a Enel apontou que o Brasil seria o destino de investimentos de 4 bilhões de euros entre 2019 e 2021, o dobro do destinado no plano de 2018 a 2020. Nesse sentido estão os aportes em redes e na geração por meio de fontes renováveis. Não coincidentemente a companhia vem investindo nas maiores plantas de geração solar e eólica da América Latina, atualmente.
No final do ano passado a companhia havia afirmado que seu apetite por novas aquisições estava limitado e que seu foco estava na integração da concessionária paulistana. Do total destinado seriam 2,2 bilhões de euros em distribuição, 1,6 bilhão em geração renovável e mais 200 milhões em serviços.
A Enel apontou naquela época um potencial de dobrar a capacidade de geração de resultado operacional da Eletropaulo nesse mesmo horizonte do plano de investimentos para 700 milhões de euros. O aporte estimado na concessionária paulista é de aproximadamente 750 milhões de euros. O volume de energia distribuída cresceu em 9% ante os 43 TWh estimados no consolidado de 2018, indicadores de qualidade melhorados em 170 pontos base e o Opex por usuário final reduzido em 30% de 62 euros para 44 euros por consumidor.
A Enel, relatou Starace em coletiva realizada em São Paulo, possui 2,4 GW em operação e mais cerca de 2 GW em construção. Segundo ele, não há preferência por ambiente de contratação, tanto que hoje metade dessa energia em obras está alocada para atender ao mercado regulado em decorrência de leilões realizados no passado e a outra metade para atender a clientes livres.
Questionado sobre transmissão ele disse apenas que essa é uma questão ainda a ser discutida pela empresa. Ele lembrou que a Enel não possui esse tipo de ativo porque não é permitido a uma empresa na Itália atuar em segmentos verticais. Com isso, comentou, a empresa levou esse modo de atuação para outras regiões onde tem presença.
Enel Digital
O executivo lançou um novo projeto de digitalização que será aplicado no bairro da Vila Olímpia (SP) em encontro com o governador do estado, João Dória, e em evento para agentes do setor elétrico. O programa, enquadrado como P&D da Aneel, deverá consumir um valor de R$ 125 milhões em três anos.
Aliás, digitalização é um dos caminhos que a Enel vê como de grande potencial para a sua área de concessão no estado de São Paulo. Starace lembrou que esse é uma das maiores oportunidades que tem por aqui. Até por esta razão, recentemente a empresa iniciou a atuação de seu braço de serviços não regulados, a EnelX.
“Nosso interesse em São Paulo é grande para mostrarmos o que podemos fazer nesta região do país”, comentou. Uma das possibilidades continuou é o avanço do investimento em smart grids. Ele disse ser possível a troca de todos os equipamentos na região em que atua. São cerca de 7 milhões de unidades. Apesar do volume, ele utilizou como argumento a experiência da Enel em sua terra natal, onde atualmente estão na segunda geração dos equipamentos digitais. Por isso disse, “é um grande volume sim, mas é possível de ser feito.” A expectativa da empresa é de que a partir da metade de 2020 obtenha a certificação de medidores eletrônicos para serem utilizados no projeto da Vila Olímpia.
A companhia afirma que serviços em grandes cidades como São Paulo estão no radar da empresa e apresentam diversas oportunidades de negócios. “São Paulo é o lugar certo para se estar quando se pensa em digitalização para metrópoles na América Latina”, finalizou ele.