Notícias do setor
17/08/2021
Notícias do Setor

Preços de turbinas eólicas devem subir até 10%, aponta consultoria

Aumento de preços são verificados em toda a cadeia de produção e em logística devendo perdurar até o final de 2022

MAURÍCIO GODOI, DA AGÊNCIA CANALENERGIA, DE SÃO PAULO (SP)

Os preços das turbinas eólicas devem aumentar em até 10% nos próximos 12 a 18 meses. Esse movimento é devido a aumentos nos preços das commodities, custos de logística e desafios relacionados ao coronavírus. Essa é a análise da consultoria Wood Mackenzie e vem em um relatório da empresa.

Verificou-se aumento nos preços do aço, cobre, alumínio e fibra, juntamente com um aumento de quatro vezes nos custos de logística, esses fatores levaram à elevação dos preços das turbinas nos últimos seis meses e a tendência é de que esse caminho continue pelos próximos quatro a cinco trimestres.

Esse aumento de preços já havia sido citado pela fabricante Aeris em sua teleconferência de resultados. A empresa já notou essa elevação durante o ano e que esse fator tem levado a incertezas sobre o investimento de empreendedores em novos projetos, pelo menos neste ano.

De acordo com a Wood Mac, os fabricantes de turbinas e fornecedores de componentes enfrentam pressões tanto do lado de aumentos de custos quanto a redução da demanda nos próximos dois anos devido à eliminação de incentivos nos EUA e na China. Mas, diz que, apesar deste aumento nos custos, espera que os preços das turbinas voltem aos níveis normais até o final de 2022.

No futuro, a consultoria aponta que se a capacidade de componentes de capital crítico e matérias primas não se expandir nos próximos dois anos, a indústria de turbinas eólicas encontrará restrições de fornecimento que podem representar problemas para as metas de descarbonização em nível de país. E aponta que há risco de escassez em termos de produção de capacidade da nacele para segmento offshore, fibras de carbono, semicondutores, entre outros componentes.

 

AXS prevê R$ 1 bi e 60 usinas para geração compartilhada até 2023

Plataforma digital da Araxá Solar atenderá a Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Mato Grosso numa primeira etapa e ambiciona faturamento de R$ 200 milhões ao ano a partir de 2024

HENRIQUE FAERMAN, DA AGÊNCIA CANALENERGIA

Com um aporte que pode chegar a até R$ 1 bilhão em 60 centrais fotovoltaicas destinadas a geração compartilhada por cotas de assinatura aos consumidores finais, a AXS Energia, do mesmo grupo da Araxá Solar, inicia suas operações nesse ano com a construção de três usinas em Minas Gerais, entregando 10 MW, além de mais duas até o fim do ano no Paraná, com os estados de São Paulo e Mato Grosso recebendo suas primeiras unidades em 2022.

Como a plataforma está moldada no meio digital, o CEO Rodolfo de Sousa Pinto, define a AXS como uma energytech e cleantech do setor elétrico, tendo expectativa de atingir entre 10 mil e 15 mil clientes até 2023, com foco em pequenos comerciantes e faturas de energia de R$ 500 a R$ 3 mil para um consumo entre 400 KWh e 22.000 KWh por mês, mas avançando com um piloto para estudar a possibilidade de expansão para clientes residenciais.

“Acreditamos que haverá uma penetração desse nicho que tem um modelo contratual distinto na medida em que o tema da energia fique cada vez mais relevante. É uma tese que estamos apostando e que vamos amadurecer nessa primeira fase do projeto”, disse Sousa Pinto em entrevista à Agência CanalEnergia.

Na visão do executivo, que também é diretor-presidente da Seta Engenharia e Araxá Solar, entre os diferenciais da AXS está a concepção de uma estratégia bem definida para geração compartilhada, sem outra modalidade de negócio, o que permite montar um modelo de marketing e de vendas mais assertivo e eficiente, numa jornada diferenciada em termos de tratamento e benefício, além de citar a origem da Araxá na área de engenharia e construção desde 2011 como outro trunfo.

“Trazemos uma bagagem de tecnologia e engenharia que é muito importante, além da busca por uma não regionalização em Minas Gerais. Vamos estar lá, mas também em outras regiões” destaca, afirmando ser uma visão estratégica de não ficar preso aos benefícios do estado e oferecer uma solução para localidades que atualmente não são atendidas.

Com fornecedores clássicos de painéis como Trina Solar e Canadian, além de inversores da Sungrow e trackers da STI, o grupo tem expertise para desenvolver e entregar usinas de todos os tamanhos no mercado, mas tem como padrão construir pacotes de cinco unidades moduladas para ter um ganho de escala e acompanhar a evolução tecnológica dos produtos, principalmente quanto aos módulos.

“Flexibilizar a engenharia para não ter uma padronização tão burocrática”, define Rodolfo Pinto, informando que ao todo serão 155 MW entre 45 usinas, sendo 100 MW em 2022 e os últimos 45 MW para 2023. Já a fase B do projeto prevê mais R$ 250 milhões em recursos e 15 usinas, o que dependerá do avanço do mercado e questões regulatórias.

Planos para o futuro

Quanto as perspectivas para o futuro, além da previsão de faturar R$ 30 milhões no ano que vem, R$ 150 milhões em 2023 e R$ 200 milhões ao ano a partir de 2024, quando todas usinas estiveram prontas, o CEO destaca que o grande charme da energia solar é que ela pode ser feita em muitos lugares e que após a massificação de seu uso naturalmente o mercado se voltará para soluções de armazenamento e mobilidade elétrica.

“Passado o ciclo da GD vamos para o armazenamento e nossa aposta é que até 2030 a indústria automobilística esteja 100% voltada para os elétricos”, avalia o executivo.

Ele lembra que entre as marcas que atuam no grupo também estão a Araxá Engenharia e Mobs – Armazenamento e Mobilidade Elétrica, que visa justamente oferecer soluções nesses segmentos, prevendo lançamentos para 2022 em diante.

“Estamos estudando frotas urbanas com soluções em GD e mobilidade para grandes empresas de distribuição ou mesmo pequenos comerciantes, como por exemplo floriculturas, conseguindo fazer modelos atrativos financeiramente”, finaliza.

Woodside, da Austrália, captura petróleo e gás da BHP em fusão de US $ 28 bilhões

Por Sonali Paul

MELBOURNE, 17 de agosto (Reuters) - O BHP Group (BHP.AX) concordou em vender seus negócios de petróleo para a Woodside Petroleum em uma fusão para criar um dos 10 maiores produtores independentes de petróleo e gás no valor de A $ 38,5 bilhões ($ 28 bilhões) com ativos de crescimento em Austrália e Américas.

A saída da BHP do petróleo, que representou apenas 5% de seu faturamento anual, acelera sua saída dos combustíveis fósseis em meio à pressão de investidores ambientalmente conscientes. O CEO da BHP, Mike Henry, no entanto, disse que a empresa continua comprometida com o carvão metalúrgico usado na produção de aço.Os acionistas da BHP serão pagos em ações da Woodside, dando aos investidores da BHP uma participação de 48% no grupo incorporado.

Isso efetivamente avalia o braço de petróleo da BHP em cerca de A $ 18,5 bilhões ($ 13 bilhões) no fechamento de terça-feira, aproximadamente no meio das avaliações dos analistas entre $ 10 bilhões e $ 17 bilhões.

Para a Woodside, o negócio é transformador, dobrando sua produção, expandindo sua pegada em gás natural liquefeito, removendo o principal obstáculo para seu projeto de gás de Scarborough de US $ 12 bilhões e dando-lhe opções de crescimento de curto prazo no Golfo do México.Os ativos da BHP, incluindo seus ativos antigos no Estreito de Bass, na Austrália, onde seus negócios de petróleo se originaram, geram caixa que ajudará a Woodside a financiar o projeto de Scarborough, bem como os desenvolvimentos no Golfo do México.

"A fusão da Woodside com os negócios de petróleo e gás da BHP proporciona um balanço patrimonial mais forte, maior fluxo de caixa e força financeira duradoura para financiar desenvolvimentos planejados no curto prazo e novas fontes de energia no futuro", disse a executiva-chefe da Woodside, Meg O'Neill, em um comunicado .

“Teremos mais opções em onde investiremos e poderemos priorizar as oportunidades de maior retorno”, disse ela a analistas.A relação de fusão não envolveu ágio para os ativos da BHP, disse ela.

O negócio foi anunciado ao mesmo tempo em que Woodside nomeou O'Neill como executivo-chefe, após uma passagem como CEO interino. Alguns analistas especularam que a chefe de petróleo da BHP, Geraldine Slattery, conseguiria o emprego.

"A transação proposta diminui o risco e apóia o Scarborough FID (decisão final de investimento) no final deste ano e permite uma alocação de capital mais flexível", disse O'Neill.As empresas disseram que a fusão geraria uma economia anual de mais de US $ 400 milhões a partir de 2023, um ano após o fechamento do negócio.

A Woodside planeja colocar a emissão de ações em votação no segundo trimestre de 2022.Um grande investidor da Woodside, Allan Gray Australia, levantou preocupações sobre um negócio, especialmente se envolver uma emissão massiva de ações."É muito improvável que os acionistas pulem com essa ideia. Certamente não", disse o diretor de investimentos da Austrália Allan Gray, Simon Mawhinney, à Reuters na semana passada.

O'Neill minimizou as preocupações de que muitos investidores da BHP que não querem combustíveis fósseis ou ações australianas possam se desfazer das ações da Woodside, dizendo que já há sobreposição entre os investidores na empresa e que consideraria listagens secundárias em Londres e Nova York para ajudar manter investidores de "alto valor" a bordo. Analistas expressaram preocupação sobre os passivos de desativação de curto prazo que a Woodside herdará com a participação da BHP nos campos de petróleo e gás do Estreito de Bass. Os analistas estimam esses custos em pelo menos US $ 2 bilhões, mas O'Neill não quis fazer uma estimativa.

"Nós nos sentimos bem sobre como avaliamos a obrigação de desativação ao definir a proporção de fusão", disse ela.

($ 1 = 1,3732 dólares australianos)

Reportagem de Sonali Paul; edição por David Evans

 

Ofertas de ações turbinam a temporada de fusões e aquisições

Reforma tributária e eleições em 2022 ajudam a antecipar negócios neste ano

Por Mônica Scaramuzzo — De São Paulo 

mostrando que as operações de fusões e aquisições seguem firmes neste mês e indicam que importantes negócios deverão ser fechados até o fim do ano. As operações de M&A (fusões e aquisições, na sigla em inglês) reforçam o movimento de consolidação e expansão registrado em diversos setores da economia.

 

Minoritários da Petrobras veem cenário mais difícil na eleição do conselho

 

Recomendação de votos da ISS pode atrapalhar planos de minoritários na eleição para o conselho da Petrobras este mês

Por André Ramalho — Do Rio 

A campanha de acionistas minoritários para a eleição do conselho de administração da Petrobras, na Assembleia Geral Extraordinária (AGE) de 27 de agosto, não foi endossada pela recomendação de votos da Institutional Shareholder Services (ISS) - empresa de orientação a investidores que recomendou a diluição dos votos entre todos os onze candidatos da disputa. Com isso, minoritários veem a eleição de seus três nomes como um cenário mais difícil, embora ainda apostem no aumento da representatividade do grupo no colegiado, dizem fontes.

Falas de Bolsonaro afetam decisão de investir, diz ex-presidente da Fiesp

A campanha do presidente Jair Bolsonaro contra o Poder Judiciário e a legitimidade das eleições brasileiras "desarticula as instituições, cria tensões, afeta a capacidade e desejo de consumo e a decisão de investir, inclusive por agentes externos", disse à BBC News Brasil o industrial Horácio Lafer Piva, acionista da Klabin, maior produtora e exportadora de papéis do país.

Ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Piva foi um dos grandes empresários que assinaram no início do mês o manifesto "Eleições serão respeitadas".

Embora não cite diretamente Bolsonaro, a iniciativa foi uma clara reação às falas do presidente de que não haverá eleições no país sem a adoção do voto impresso, proposta que foi barrada na última semana no Congresso.

"O princípio chave de uma democracia saudável é a realização de eleições e a aceitação de seus resultados por todos os envolvidos. (…) A sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará aventuras autoritárias", afirma o manifesto.

No sábado (14/08), Bolsonaro voltou a elevar a temperatura da crise, ao anunciar que pedirá ao Senado o impeachment dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, este último também atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em entrevista à BBC News Brasil, Piva diz que a batalha presidencial em torno do voto impresso "tem uma dimensão de curto, médio e longo prazo", cujos efeitos se sentirão não apenas na economia, mas na "política e na saúde mental da sociedade".

"Este governo segura o Brasil que quer avançar, aproveitar oportunidades, sair da pobreza, otimizar sua diversidade e o destino de potência ambiental. Lamentável", disse ainda.

Sobre a gestão econômica de Bolsonaro e do ministro Paulo Guedes, Piva avalia que não vem funcionando. "Não deu certo. Guedes partiu com alguns autoenganos e desconhecimentos do tamanho do desafio."

O empresário não apoiou a eleição de Bolsonaro em 2018, quando optou por votar em branco no segundo turno, descartando também o candidato petista Fernando Haddad.

Embora tenha elogios ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que descreve como "um homem inteligente e sólido no seu compromisso social", continua resistente a votar no PT e diz que trabalhará por um candidato do "centro democrático" na eleição presidencial de 2022. Reconhece, porém, que esse objetivo é dificuldade pelo apoio que parte dos partidos que representariam esse campo, como PSDB, DEM e MDB, tem dado a pautas bolsonaristas, inclusive o voto impresso.

"É difícil ajudar quem não se ajuda, e estes partidos se colocam nesta categoria, temperando-se com um pragmatismo medroso", crítica.

Confira a seguir a entrevista completa, concedida por e-mail na quinta-feira (12/08).

BBC News Brasil - O senhor assinou no início de agosto um manifesto com outros empresários e lideranças da sociedade civil cobrando a realização de eleições e o respeito a seu resultado. A campanha de Bolsonaro pelo voto impresso, com ataques ao Poder Judiciário, tem efeitos sobre a economia? Como isso afeta as empresas e a recuperação econômica?

Horácio Lafer Piva - O que vem acontecendo no Brasil tem uma dimensão de curto, médio e longo prazo, na política, economia, e na saúde mental da sociedade. Desarticula as instituições, cria tensões, afeta a capacidade e desejo de consumo e a decisão de investir, inclusive por agentes externos, vejamos a imagem do país. Além disto, há riscos de concentração de renda e desequilíbrios entre empresas mais ou menos capitalizadas e bem ou mal preparadas.

Embora jovem, a democracia brasileira é o norte. O círculo virtuoso de investimento-produção-emprego-consumo-reinvestimento depende de segurança, jurídica e institucional. Este governo segura o Brasil que quer avançar, aproveitar oportunidades, sair da pobreza, otimizar sua diversidade e o destino de potência ambiental. Lamentável.

BBC News Brasil - Bolsonaro foi eleito presidente com grande apoio na elite econômica, embora seus pensamentos autoritários já fossem amplamente conhecidos, como a defesa da Ditadura Militar. A elite econômica tem responsabilidade sobre a deterioração democrática do país?

Lafer Piva - Sempre tem, no passado e no presente. Mas Bolsonaro foi eleito com apoio de muito mais que a elite econômica, nela também há os que desde então se posicionaram, temo generalizar. Nunca vi entusiasmo, apenas um certo lamentável conformismo.

A sociedade não tem mais o direito de acreditar em salvadores da pátria, custou-nos caro as armadilhas do discurso populista. É preciso entender melhor o que de fato move um candidato, do eleitor mais simples ao mais sofisticado. Voto é algo muito sério. E considerar que neste mundo conectado, as percepções correm excessivamente rápido, e as consequências são mais perigosas.

Elites que olham seus interesses imediatos não parecem perceber o desatino de sua riqueza aprisionada em tanta pobreza social, e o preço a advir de uma democracia frágil. A Venezuela é um exemplo próximo e claro.

BBC News Brasil - Há um temor em parte da sociedade de que Bolsonaro não aceite eventual derrota em 2022 e tente algum movimento autoritário, com apoio das Forças Armadas e de policiais militares. Se um cenário como esse ocorrer, qual seria a reação da elite econômica? Pode haver apoio de parte dela?

Lafer Piva - Não acredito nisto. As Forças Armadas são conscientes de seu papel. Haverá divisões e tensões internas, mas não acredito nesta possibilidade. Nas polícias, ainda há o que se avaliar, mas a sociedade não apoiaria nada autoritário neste nível. Se acontecesse, seria movimento isolado, que não se sustenta. Esta possibilidade está completamente fora de meu radar.

BBC News Brasil - O senhor já disse que gostaria de votar em uma "alternativa de centro, do polo democrático" na próxima eleição, alguém que possa romper com a polarização entre Bolsonaro e Lula. Alguns partidos que se colocam como "centro democrático" têm demonstrado pouca coerência na oposição a Bolsonaro. Na votação da PEC (proposta de emenda à Constituição) do voto impresso, boa parte das bancadas de PSDB, DEM, MDB e PSD, por exemplo, apoiou a medida. Isso é um problema para a construção dessa candidatura alternativa de centro? Vê algum nome viável para representar esse campo?

Lafer Piva - Uma vergonha o que temos visto no Congresso, com suas exceções. Queremos fortalecer a Política, enxergar nos partidos conteúdos programáticos e ideologia mais clara, mas o que colhemos é uma massa amorfa de descompromissos e oportunismos.

Ainda estamos a processar o que houve, mas sim, acho que se perde uma das variáveis da equação de escolha de nomes. Pessoalmente penso ser ainda cedo para fulanizar, escolher um nome, temos tempo, mas insisto na tese do centro democrático. Contudo, é difícil ajudar quem não se ajuda, e estes partidos se colocam nesta categoria, temperando-se com um pragmatismo medroso.

BBC News Brasil - Se uma alternativa não decolar e o segundo turno for entre Lula e Bolsonaro, qual seria sua escolha? Por que?

Lafer Piva - Não está no meu horizonte esta decisão. Todo o meu empenho está na ajuda para a construção de alternativas. Acredito honestamente que será possível uma conscientização da importância de mais espectros que não apenas as pontas.

BBC News Brasil - O governo Lula foi marcado por crescimento econômico e disciplina fiscal, mas parece haver bastante resistência a ele na elite econômica. Por quê? Essa resistência tem recuado?

Lafer Piva - O governo Lula fez um belo governo em sua 1ª gestão. Na 2ª se perdeu, com uma sucessão que consolidou os malfeitos. Há os inevitáveis temas da corrupção, e há também mais desconfiança no fato de que muitos dos dirigentes do PT que retornariam pudessem trazer junto ressentimentos que comprometeriam as fundamentais relações republicanas. Manifestações recentes sugerem visões duvidosas.

Mas, veja, desconfiança neste ponto [existe] mais na direção do partido do que no próprio Lula, que é um homem inteligente e sólido no seu compromisso social. Há, portanto, uma percepção de que, com o tanto a se reconstruir, falte ao PT uma ideia clara e precisa de programa e necessidades, e a compreensão do sacrifício que precisaria fazer para priorizar um novo ciclo de desenvolvimento econômico, que traz junto o social.

A herança [do governo FHC] que não era tão maldita, o compromisso com a estabilidade do próprio Lula em sua Carta aos Brasileiros, e a boa sorte do preço das commodities e crescimento da China não são mais matéria dada. Tudo e todos têm seu momento.

BBC News Brasil - O senhor disse em 2018 que estava com dificuldades na escolha entre Bolsonaro e Haddad no segundo turno. Poderia dizer como votou e se houve algum arrependimento de sua escolha?

Lafer Piva - Eu votei em branco, consciente de que é má decisão conceitualmente falando, mas seguro que não daria certo com Bolsonaro e nem com, apesar de gostar de Haddad, o PT. Não me arrependo, mas sofro em não ter ajudado mais na busca de outras opções.

Me esforço agora, junto com outros em grupos diversos, democratas, cidadãos, que a pandemia ajudou a criar, em incentivar candidaturas e conscientizar eleitores ao meu alcance.

BBC News Brasil - Quando Bolsonaro foi eleito, boa parte da elite econômica se mostrou empolgada e confiante com a escolha do ministro Paulo Guedes. Qual o saldo que faz da gestão de Guedes e do comando de Bolsonaro na economia até o momento?

Lafer Piva - Verdade. Não deu certo. Guedes partiu com alguns autoenganos e desconhecimentos do tamanho do desafio, mas certamente tentou avançar na partida, sem sucesso, [a resistência apresentada pelo] o núcleo duro do presidente não é algo trivial. Decepcionado, me pareceu partir para ações erráticas. E agora sinto que politizou sua gestão, um cansaço generalizado. Pena (BBC Brasil, 16/8/21)

 

Ibovespa fecha abaixo dos 120 mil pontos; dólar vai a R$ 5,2791

Ibovespa fechou hoje (16) abaixo dos 120 mil pontos pela primeira vez desde maio, em um pregão marcado pela decepção dos investidores com o desempenho da economia chinesa, reajuste para cima nas projeções da Selic e da inflação pelo Boletim Focus, além da turbulência política em Brasília. A bolsa brasileira fechou o dia com queda de 1,66%, a 119.180 pontos.

A ação da CVC (CVCB3) teve o pior desempenho na sessão, com queda de 8,56%, a R$ 17,20, após reportar prejuízo líquido de R$ 175,5 milhões no segundo trimestre, uma queda de 30,4% em relação ao mesmo período do ano passado. O mercado também digere a aquisição das ações remanescentes da VHC Hospitality, elevando a participação da CVC na empresa de 69% para 100%.

Os papéis da Via (VIIA3), antiga Via Varejo, também estão entre os destaques negativos do dia após fecharem em queda de 6,11%, a R$ 10,61. A desvalorização ocorreu por causa do balanço financeiro do segundo trimestre, divulgado na última semana, que mostrou crescimento do lucro líquido abaixo do esperado pelo mercado.

Boletim Focus desta segunda trouxe uma elevação da projeção da taxa Selic de 7,25% para 7,50% para o fim de 2021 e em 2022. A estimativa para a inflação deste ano ficou em 7,05%, ante 6,88% na semana passada; para 2022, o índice foi revisto de 3,90% para 3,84%.

Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, aponta que o mercado de renda fixa vem se tornando mais atrativo. “Na última sexta, a bolsa brasileira praticamente zerou os ganhos no ano. Então, os investidores começam a questionar se, com os juros subindo, vale ficar aplicado em renda variável e não deixar dinheiro na renda fixa”, diz ele.

Na China, o Escritório Nacional de Estatísticas informou que a produção industrial do país cresceu 6,4% em julho, ante expectativa de 7,8%. As vendas no varejo tiveram alta e avançaram de 8,5% no período, resultado também inferior aos 11,5% esperados. As autoridades chinesas afirmaram que a retomada econômica está ocorrendo de forma desigual, e que os números são consequência da disseminação da variante Delta da Covid-19 e das enchentes que atingiram o país nos últimos meses.

O índice S&P 500 cresceu 0,26% e atingiu nova máxima recorde de 4,479 pontos, assim como o Dow Jones, que fechou em alta de 0,31%, a 35.625 pontos com investidores migrando para ações de setores defensivos. O índice referência em papéis de tecnologia, Nasdaq Composite, fechou em baixa de 0,20%, a 14.793 pontos.

dólar subiu 0,65%, a R$ 5,2791 na venda, o maior patamar desde maio. O câmbio foi pressionado pela força da moeda norte-americana no exterior e pelo recorrente clima de instabilidade político-fiscal no plano doméstico. O cenário levou o Morgan Stanley a passar para o lado pessimista sobre o real, depois de meses com recomendação otimista ou neutra.
“Grande parte da deterioração parece advir da percepção de que uma derrapada fiscal permanece como um grande risco”, disseram estrategistas do banco em relatório (Reuters, 16/8/21)

 

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