Portaria permite que grandes consumidores ofereçam lotes mínimos de 5MW para cada hora
DA AGÊNCIA CANALENERGIA
O Ministério de Minas e Energia (MME) publicou, nesta segunda-feira, dia 23 de agosto, em edição exta do Diário Oficial da União (DOU) a Portaria 22/2021, que estabelece até 30 de abril de 2022, diretrizes para apresentação de ofertas de Redução Voluntária de Demanda de Energia Elétrica (RVD) para atendimento ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
A oferta mínima poderá ser feita em espécies de lotes de duração horária, que varia de 4 a 7 horas, e com lotes mínimos de 5 MW para cada hora de duração da oferta, com preço estabelecido em R$/MWh, dia da semana e identificação do Submercado da oferta.
A medida tem caráter excepcional e temporária e é um estímulo do governo à indústria para diminuir a pressão sobre o SIN no atual contexto de escassez hídrica que impõe grandes desafios para o atendimento da demanda de energia elétrica no país.
A ideia é permitir que o setor industrial e grandes consumidores reduzam voluntariamente a demanda de energia elétrica nos momentos de alto consumo. Poderão participar da oferta de RVD os consumidores livres, os agentes agregadores, os consumidores modelados sob agentes varejistas e os denominados consumidores parcialmente livres, o que será submetido à análise do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) para manifestação, conforme diretrizes estabelecidas no normativo.
Cada oferta terá validade de 1 a 6 meses, mas poderão ser avaliadas ofertas com duração inferior a 1 mês. Caso o agente participante do programa que foi despachado não conseguir reduzir em no mínimo 80% do montante de 5 MW, será considerado como não atendimento ao produto.
O ONS será o responsável por apresentar as ofertas ao CMSE para manifestação sobre o aceite ou não. Os interessados em participarem desse processo devem seguir alguns requisitos, como estarem adimplentes com as obrigações junto à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Fabricantes registram aumento acima de 200% nas vendas. Corrida por equipamentos causa fila de espera e escassez de componentes eletrônicos no mercado
ROBSON RODRIGUES, DA AGÊNCIA CANALENERGIA, DE SÃO PAULO
O receio de um cenário de escassez de energia que se desenha no Brasil está puxando as vendas de motores e geradores em 2021 para os maiores patamares em quase uma década. Essa corrida de empresas de diversos setores da economia por esses equipamentos é uma tentativa de se antecipar a um possível racionamento e evitar perdas com a paralisação da produção.
Neste contexto, fabricantes de grupos geradores surfam com vendas em níveis recordes. É o caso da empresa OnPower, que em 2021 teve a maior curva crescente na venda de grupos geradores desde 2013. Segundo o gerente de vendas, Fernando Lemos, o ano deve ser o melhor da história, superando o pico de 16 mil unidades diesel vendidas por todos os fabricantes no Brasil. A empresa também comercializa motores a gás natural e biogás.
“Estamos em agosto e já alcançamos 82% de crescimento nas vendas em relação a 2020. Temo pela escassez de motores no mercado de forma geral. Tenho pedido colocado de 60 motores, que vou receber metade em novembro de 2021 e outra metade em fevereiro de 2022. Não tem motor para o mercado industrial e nem para o mercado automotivo”, diz Lemos.
Além da fila de espera, o executivo relata que já há falta de componentes eletrônicos para esses motores e que seus clientes têm pedidos na carteira, mas não conseguem aumentar a produção.
Outra empresa que está com um número grande de pedidos é a Stemac, que registrou um aumento de 35% na procura pelos produtos nos últimos dois meses. Na análise do vice-presidente executivo da companhia, Valdo Marques, com o avanço da vacinação e uma retomada mais célere da economia, era esperado que esse mercado fosse aquecer. Entretanto, o medo de um apagão deu mais força ao crescimento.
“Há uma concorrência de fatores para aumentar o consumo de grupos geradores, que é a retomada da economia e do investimento e mais essa possível necessidade em função de uma crise súbita de energia a partir do último trimestre do ano”, diz.
A MWM Motores e Geradores teve um aumento surpreendente na demanda de grupos geradores, que teve uma evolução de 200% considerando o período de novembro de 2020 a julho de 2021, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Segundo o diretor da unidade de motores e geradores da companhia, Cristian Malevic, esse incremento “não é proporcional ao tamanho do risco de ruptura no fornecimento energético, e, principalmente, proporcional ao aumento das contas de energia elétrica”, diz.
O indicado é que os momentos de racionamento ocorram durante os horários de maior demanda energética, diminuindo risco de apagões
As regras para início do plano nacional de racionamento de energia entram em vigor nesta segunda-feira, 23. As medidas são destinadas aos grandes consumidores e visam reduzir a demanda durante horários de pico e evitar apagões. O plano foi instaurado pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, em publicação de uma portaria no Diário Oficial da União.
De acordo com estudos do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o período seco aumenta a possibilidade de esgotamento da potência de energia, gerando risco de apagões. Essas sobrecargas ocorrem nos horários de maior demanda, quando a rede de energia demanda uma operação mais intensa das usinas hidrelétricas.
O programa de redução voluntária do consumo é destinado apenas a grandes consumidores que se disponham a reduzir o consumo por períodos de quatro a sete horas por dia. Para ser implementado, no entanto, o projeto deve ser publicado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a expectativa do mercado é que isso ocorra dentro de uma semana.
O governo pretende estipular uma economia diária de energia de 20 MW a 35 MW, sendo 5 MW por hora de economia gerada. A princípio, foi cogitada uma economia maior, de ao menos 30 MW diários. No entanto, com um volume tão grande de energia, o programa ficaria restrito a um grupo de 80 empresas de grande porte. A redução para, ao menos 5 MW, permite que as empresas menores também possam aderir.
As empresas que aderirem terão de remanejar sua jornada de trabalho prevendo redução de ao menos 80% do consumo médio de energia. Ainda segundo a Folha, o fazer o pedido, as empresas devem informar a quantidade de energia que se dispõem a economizar e o preço que pretendem receber por isso.
De acordo com a portaria do MME, se a oferta de economia apresentada pelo grupo for menor do que o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), no valor de R$ 583,88 por MWh (megawatt-hora), a diferença será retornada ao consumidor via encargos cobrados na conta de luz. Se for maior, todos os consumidores pagarão essa diferença. Autor Lara Vieira
Por Solange Guimarães
Legenda: A cada dia, mais bancos e companhias de gestão de ativos oferecem carteiras ESG, uma vez que já se consegue provar que empresas com práticas sustentáveis sólidas performam melhor no longo prazo
Propulsor da transformação das práticas de sustentabilidade em ativos tangíveis do ponto de vista financeiro, o mercado de capitais debate agora formas de parametrizar os indicadores e, ao mesmo tempo, torná-los cada vez mais específicos. A B3, Bolsa de Valores brasileira, por exemplo, prepara o lançamento de um índice que reunirá as empresas listadas que integram o ranking das melhores empresas para trabalhar. O projeto está sendo realizado em parceria com a Great Place to Work e acompanhará a performance das empresas que atuam com respeito, imparcialidade e liberdade no ambiente de trabalho e que têm iniciativas para a promoção da diversidade, do bem-estar e do equilíbrio dos funcionários. São compromissos relacionados ao pilar S.
Será o oitavo índice ESG da Bolsa, que já trabalha com o ICO2 (Índice Carbono Eficiente); o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial); IGC (Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada); IGCT (Índice de Governança Corporativa Trade); IGC-NM (Índice de Governança Corporativa – Novo Mercado); o ITAG (Índice de Ações com Tag Along Diferenciado); e o ICDPR-70 (Índice CDP Brasil – Resiliência Climática), lançado há pouco mais de um ano.
O cenário é efervescente. A cada dia, mais bancos e companhias de gestão de ativos oferecem carteiras ESG – utilizando os índices da B3 ou metodologia própria – e o principal motivo de atração dos investidores, além do bom-mocismo da causa, é que já se consegue provar que empresas com práticas sustentáveis sólidas performam melhor no longo prazo. Pesquisa feita pela BlackRock com 425 investidores de 27 países apontou que as alocações dos entrevistados em ativos sustentáveis devem dobrar nos próximos anos. E analistas acreditam que em dez anos todos os ativos serão avaliados pela régua ESG.
Essa demanda exige que o mercado se organize ainda mais. O mundo ainda está em fase de alinhamento das métricas, medições de práticas e padrões de ESG, que variam muito de um local para outro, inclusive em termos de exigências de padronizações dos reguladores – como a brasileira CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a americana SEC e outras –, o que não cabe em um mercado globalizado.
A União Europeia, por exemplo, desenvolveu uma taxonomia (categorização) para definir o que é um investimento sustentável – empresas brasileiras que queiram fazer negócios ou ter acesso ao capital do bloco econômico terão de reportar suas atividades com os critérios técnicos europeus. Com isso, entre outros objetivos, o mercado busca uma forma de bloquear o greenwashing, o chamado banho verde, que é o reporte maquiado de supostas atividades ecoeficientes que não são comprováveis na prática.
“É uma agenda relativamente nova nos países emergentes, incluindo o Brasil, mas observamos que o avanço tem sido rápido, entretanto ainda é preciso focar de forma séria na questão das práticas, o famoso walk the talk”, afirma Marcelo Seraphim, diretor no Brasil da Principles for Responsible Investment (PRI), organização criada com apoio da ONU para elaborar princípios norteadores de investimentos sustentáveis.
O PRI, a CVM, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) estão juntos no Laboratório de Inovação em Finanças, um fórum de interação multissetorial que busca criar soluções inovadoras de financiamento para a alavancagem de recursos privados para projetos com adicionalidade social ou ambiental e contribuir para o cumprimento das metas brasileiras associadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas (a Agenda 2030) e aos compromissos para o enfrentamento dos riscos de mudança climática firmados no Acordo de Paris, em 2015.
Além de ser resiliente, espera-se que as empresas contribuam de fato para um mundo melhor. “Essa pauta fica cada vez mais inegligenciável, e o nível de detalhamento da discussão tende a subir”, avalia Illan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. “Estamos no novo mundo, e não existe espaço para as práticas lastimáveis do passado.”
A ascensão do ESG fez crescer a procura por especialização. Empresas de renome criaram áreas específicas para o tema. É o caso da consultoria EY que, em maio, tornou-se verificadora aprovada pelo Climate Bonds Initiative (CBI) Standards and Certification Scheme e, assim, passa a auxiliar as empresas a obter a certificação emitida pela CBI. “As empresas que tenham a intenção de comunicar ao mercado que os investimentos que fazem possuem o título verde só poderão fazê-lo se tiverem, de fato, um selo que comprove seu compromisso com esse critério”, explica Leonardo Dutra, líder de consultoria na área de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade da EY para o Brasil.
Para Gustavo Pimentel, diretor-executivo da Sitawi, certificadora especializada em investimento de impacto, a liderança do setor privado no avanço da temática ESG envolve tanto o setor produtivo como investidores, bancos e provedores de capital. “É uma agenda que tem sua própria dinâmica e que está acontecendo, a despeito da posição do governo federal”, avalia.
Who cares wins
O raciocínio é simples: empresas de qualidade tendem a ter melhores retornos no longo prazo. Assim sendo, o caminho lógico é que o mercado adote critérios ESG para avaliação das empresas em qualquer decisão de investimento. Como consequência, todos os setores terão de se adaptar. “ESG já permeia a decisão de fundos não só de ações como também de crédito. Aqui, no Santander, toda avaliação de crédito tem uma nota ESG”, comenta Raquel Vieira Diniz, do Santander Asset Management. O banco usa metodologia própria de análise e detém o mais antigo fundo sustentável do Brasil, o Ethical, lançado em 2001 pelo então Banco Real.
Naquela época, a discussão sobre sustentabilidade no mercado financeiro estava engatinhando no Brasil. A B3 tinha acabado de lançar, em 2000, o Novo Mercado, segmento que exige das companhias listadas o cumprimento de normas rigorosas de governança corporativa, adicionais às que são requisitadas pela legislação brasileira. “Em pouco tempo, o segmento se tornou referência no mercado. Em 2005, lançamos o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), o primeiro no Brasil e o quarto da categoria criado no mundo”, relembra Gilson Finkelsztain, CEO da B3, ressaltando que, “como companhia, atuamos de forma consistente em cada um dos pilares ESG e, como bolsa, queremos ser um parceiro importante, que ajude as empresas a percorrerem essa jornada, elevando seus indicadores e trazendo benefícios para consumidores, investidores e para a sociedade como um todo.”
O Brasil acompanhava o debate mundial à época. O relatório “Who Cares Wins”, lançado pelo Pacto Global da ONU no final de 2004, usava pela primeira vez a sigla ESG para se referir aos pilares de desenvolvimento sustentável. Entusiasta da integração dos fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais, o então secretário geral da Nações Unidas, Kofi Annan, reuniu lideranças mundiais em torno da ideia e em 2006 surgia o PRI, que hoje reúne mais de 3 mil signatários.
Nos últimos 15 anos, sustentabilidade vem ganhando sofisticação no mercado financeiro. E lideranças como Larry Fink, CEO da BlackRock, têm demonstrado que a causa ambiental, principalmente a economia neutra em carbono, são os principais desafios, mas não os únicos. A pandemia de Covid-19 mostrou diversas vulnerabilidades. Como apontam os protestos contra o racismo e as manifestações pró-democracia, o S deverá ganhar maior evidência em todo o mundo (Forbes, 21/8/21)
Ibovespa descola do exterior e fecha em baixa; dólar a R$ 5,3802
O Ibovespa se descolou das bolsas no exterior e fechou hoje (23) em queda de 0,49%, a 117.471 pontos, com desempenho penalizado pela percepção de risco fiscal no Brasil. As tensões entre Executivo e Judiciário aumentam as incertezas sobre a aprovação da agenda econômica do Planalto, que inclui a reforma do imposto de renda e o plano de pagamento dos precatórios, além do orçamento para 2022.
As ações da Embraer (EMBR3) estão entre os destaques positivos do dia, com alta de 5,89%, “devido aos contratos no segmento de veículos elétricos e carros voadores que a companhia fechou nos últimos dias”, afirma Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos. A fabricante de aviões comerciais informou, na manhã desta segunda-feira, que sua subsidiária Eve Urban Air Mobility ampliou a parceria com a startup de Singapura Ascent Flights Global para realizar 100 mil horas de voos em veículos elétricos.
A Lojas Americanas (LAME4), por outro lado, teve a maior queda da sessão, de 6,08%, em função da integração de suas operações com as da B2W e da perspectiva para o setor de varejo nos próximos meses. “O mercado ainda está apreensivo com os resultados reportados pelas empresas, e recentemente, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou dados mais fracos para as vendas no varejo brasileiro. As incertezas macroeconômicas, como altas nas taxas de juros e inflação afetam o poder de compra das famílias e são motivos de preocupação por parte dos investidores nesses ativos”, diz Madruga.
Em Wall Street, os índices fecharam em alta, com o Nasdaq atingindo nova máxima recorde de 14.942 pontos, após subir 1,55% na sessão. O Dow Jones avançou 0,61%, a 35.335 pontos, e o S&P 500 cresceu 0,85%, a 4.479 pontos. Os setores bancário e de energia lideraram os ganhos após uma forte liquidação na semana passada. O mercado também recebeu positivamente a aprovação total pela agência sanitária dos Estados Unidos da vacina da Pfizer contra a Covid-19.
A atenção nesta semana está voltada para a conferência anual do Federal Reserve em Jackson Hole (Wyoming), que começa na quinta-feira (26), na qual os investidores esperam pistas sobre quando o banco central dos EUA começará a reduzir seus estímulos à economia.
O dólar fechou estável a R$ 5,3802 na venda. No exterior, a divisa norte-americana registrou baixas significativas frente a uma cesta de pares, na maior desvalorização diária desde o começo de maio. “O dólar aprofundou sua queda no exterior, mas, no Brasil, o risco fiscal deixou o real fraco”, explica Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos (Reuters, 23/8/21)